O ESTADO DE S. PAULO - 21/02
A presidente Dilma Rousseff voltou de seu retiro de carnaval no litoral da Bahia aparentemente cheia de ideias para reverter a agenda negativa que a atormenta desde que assumiu o segundo mandato. Já no fim da tarde da Quarta-Feira de Cinzas reuniu-se no Palácio da Alvorada com os ministros de seu círculo mais íntimo para alinhavar iniciativas em dois âmbitos: o político e o da comunicação. Em ambos, porém, Dilma vai ter de se entender primeiro consigo mesma, se alimenta realmente a esperança de dissipar o ambiente carregado de más notícias e péssimas perspectivas que ela própria se encarregou de criar para o País.
Dilma enfrenta hoje, no plano político, problemas com a governabilidade agravados pelo peso de uma imagem extremamente negativa, especialmente para quem acaba de se reeleger. Recapitulando: dias atrás, uma pesquisa Datafolha apurou que 47% dos brasileiros a consideram desonesta e 54% a julgam falsa. A avaliação de seu governo despencou em dois meses de 42% para 23% de ótimo/ bom e aumentou substancialmente de 24% para 44% de ruim/péssimo. Ou seja: a presidente da República está com a credibilidade gravemente comprometida. Culpa de quem?
Basicamente, da soberba que a impede de admitir os próprios erros e de procurar ajuda onde quer que possa ser encontrada. Reeleita, Dilma poderia ter-se fortalecido chamando para o diálogo e o entendimento todas as forças vivas da Nação - afinal, ela é a presidente de todos os brasileiros - de modo a oxigenar o debate sobre novos e melhores caminhos para o País. O máximo de concessão que foi capaz de fazer foi designar, sem nenhum entusiasmo, uma equipe econômica com respaldo no mercado para a tarefa de colocar em ordem as contas do governo. Na área estritamente política, em vez de se abrir, fechou-se. Afastou a corrente majoritária de seu próprio partido e se cercou de ministros com os quais tem maior identificação ideológica, além de tentar, inutilmente, enfraquecer seu maior aliado, o PMDB.
O resultado é que hoje a presidente da República não tem apoio popular e tampouco pode confiar em parte do PT e no PMDB.
No âmbito da comunicação Dilma também vai encontrar dificuldades para criar uma agenda positiva. E a razão é muito simples: sua falta de credibilidade perante a opinião pública. Promover a imagem do governo não é uma tarefa que se esgote na sedução da militância profissional, paga, aquela que pode não ter gostado, mas também não deu grande importância ao fato de Dilma ter desmentido, logo ao tomar posse, suas promessas de campanha. A dificuldade é convencer quem se sente ludibriado em sua boa-fé. E estes certamente integram a maioria de 54% que acha que Dilma é falsa ou os 47% mais radicais que a consideram desonesta.
Recentemente, a presidente teve uma conversa de mais de duas horas em São Paulo com seu criador - a primeira desde sua segunda posse - e como de hábito Lula tentou lhe ensinar o caminho das pedras: reunir-se - e prestar atenção no que têm a dizer - com governadores, lideranças da base aliada, do movimento sindical, das organizações sociais. E conceder mais entrevistas à imprensa, comparecer a um maior número de eventos oficiais dentro e fora do Palácio, falar diretamente aos brasileiros por meio de cadeias de rádio e de televisão. Enfim, mostrar-se e conversar com as pessoas, seduzi-las.
Para Lula tudo isso pode parecer muito óbvio e fácil. É exatamente o que ele próprio sabe fazer melhor. Mas talento não se ensina. E a arte da sedução, definitivamente, não é a especialidade de Dilma, que não tem a menor paciência para ouvir o que não lhe interessa e não consegue disfarçar contrariedades. Ouvir a opinião de terceiros e dialogar é algo que Dilma só faz como último recurso. Não é por outra razão que se cerca apenas de pessoas que pensam como ela.
Se está, portanto, realmente decidida a construir uma agenda positiva para o governo, a Dilma Rousseff não bastará anunciar novos pacotes de bondades ou fingir que dá ouvidos a gente em quem nunca prestou atenção. Antes de mais nada, vai ter de enfrentar o desafio de superar a si mesma.
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