FOLHA DE SP - 06/02
Tensão política tende a esfriar mais a economia; sangria desatada da Petrobras azeda ambiente
O PT AINDA terá ânimo de fazer festa pelos seus 35 anos, a partir de hoje, quando então também aproveitará para dar uma força ("desagravo") a João Vaccari Neto, seu ex-tesoureiro, acusado ontem por um ex-gerente ladrão da Petrobras de levar para o partido o equivalente a no mínimo uns R$ 400 milhões em propinas e assemelhados.
A torrente de novas delações e o que começa a vazar da nova onda de investigações da PF, outra fase da Lava Jato, deve provocar paralisia ou até quebras de empresas relacionadas à Petrobras. Empresa grande.
Ainda ontem, foi aprovada a CPI da Câmara para investigar a Petrobras, o que tende a dar em quase nada, a não ser no incremento do salseiro político.
E a economia?
Se a leitora, que é perspicaz, já sabe que o clima não está bom, imagine com esse crescendo de tensão e os confrontos entre PT e o resto, e mesmo dentro do PT, pois a cada dia aparecem petistas que batem pesado em Dilma Rousseff.
A economia está basicamente no pântano. Sair do atoleiro depende ainda mais, se não quase totalmente, de decisões políticas. Melhor dizendo, depende de:
Um: que a presidente jogue a toalha e reconheça outros erros. Parece já tê-lo feito ou o faz por ora na política macroeconômica e em parte da política de energia, aceitando o tarifaço. Falta a Petrobras, para citar um exemplo maior.
Murilo Ferreira, presidente da Vale, até a noite de ontem o mais cotado para assumir a petroleira, vai ter liberdade para fazer a reforma profunda?
Dois: que a tensão política não produza pânico paralisante entre os "agentes econômicos". Isto é, o mero risco de terra em transe, de confronto terminal e de outras ameaças à continuidade do governo, vai congelar o restante dos planos de investimento, para não dizer coisa pior.
O governo precisa imediatamente de uma câmara de gerenciamento de crise ou algo assim. Está desnorteado.
CHUCHU E PEPINO
Kátia Abreu, a ministra da Agricultura, estuda se será preciso substituir a produção paulista de legumes e verduras pela nordestina. Sério. Motivo: a seca prejudica a produção, o racionamento pode provocar escassez. Regiões de agricultura irrigada poderiam compensar o problema.
Aliás, o problema já está evidente em São Paulo. O índice Ceagesp de preços subiu 2,81% em janeiro; em 2014 inteiro, subiu 8,9%. O Ceagesp é o grande mercado atacadista de legumes, verduras, frutas e pescado de São Paulo.
O chuchu subiu 118%. O pepino japonês, 100%.
Nos próximos dias, a ministra vai levar a Dilma um mapa do risco de desabastecimento devido à seca e a seus impactos possíveis na inflação.
Chuchu? Alface? Pepino? Sim. A vida cotidiana não está fácil, com falta d'água, alta em torno de 50% na conta de luz, racionamentos etc. Comida mais cara vai ser a cereja ou o pepino desse bolo de crises.
As primeiras irritações mais generalizadas com o governo Dilma em 2013 foram detonadas pela inflação da comida, que chegou a bater em 14% ao ano. O símbolo da carestia foi o preço do tomate. Era metáfora, piada. Mas degringolou em mau humor maior.
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