O ESTADO DE S.PAULO - 14/12
A multiplicação, defesa e proteção de empresas estatais está presente no programa e no discurso de representantes do Partido dos Trabalhadores (PT) e dos sindicatos a ele ligados por meio da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Mas nos governos petistas de Lula e Dilma Rousseff ocorreu o inverso: a prática negou o discurso e o programa foi rasgado. O excessivo e desarvorado uso político das duas maiores empresas estatais brasileiras - Petrobrás e Eletrobrás - as levou, 12 anos depois, a um desfecho dramático de colapso financeiro a que nenhum governo megaliberal ousaria conduzi-las.
E pior: tudo se passou em absoluto silêncio, sem nenhuma pressão política, alerta, contestação, protesto, campanha nas ruas, seja lá o que for de parte dos sindicatos de petroleiros e eletricitários, sempre tão atuantes, ciosos e barulhentos quando gritam contra a privatização. Cabe a pergunta: se destruídas elas não servem aos brasileiros, a quem devem servir? A resposta o leitor encontra nas investigações reveladas pela Operação Lava Jato na Petrobrás, em que Polícia Federal e Ministério Público encontraram indícios e prometem estender à Eletrobrás.
Atacada por gestões de diretores corruptos, políticos gananciosos, empreiteiras que superfaturam obras e doleiros que lavam dinheiro, a Petrobrás migrou da editoria de economia para as páginas policiais dos jornais: é acusada de trapaças e de corrupção por acionistas minoritários nos EUA e, no Brasil, é manchete diária na imprensa, inclusive nos telejornais que chegam a quase 100 milhões de brasileiros. Primeiro efeito: perdeu pontos na sua classificação de risco e não tem mais crédito barato no exterior. E mais: no Brasil o crédito também minguou, pois a empresa de auditoria externa negou aval ao seu balanço e a saída pelo mercado de capitais ficou inviável com a queda expressiva de suas ações. Além de acrescentar despesas ao seu caixa com pagamento de advogados caros nos EUA, como ela vai sustentar seu assombroso plano de investimentos que lhe impôs a presidente Dilma ao jogar no seu colo 30% de todos os poços do pré-sal?
Mas não é isso o que preocupa Dilma e a direção da Petrobrás no momento. O problema financeiro da estatal é mais urgente: ou entra dinheiro agora ou ela para investimentos importantes. Fornecedores já têm se queixado de atraso de pagamentos; estaleiros na Bahia e no Rio Grande do Sul demitem trabalhadores em razão de contratos por ela cancelados; e centrais sindicais pressionam o governo para ela bancar indenizações trabalhistas aos demitidos dessas empresas. Logo ela, que passou anos acumulando prejuízos pelo congelamento forçado dos preços de combustíveis, como vai dar conta do fluxo de caixa cotidiano, que já é pesado, mais essas despesas extras que não seriam de sua responsabilidade?
Como o crédito secou, o jeito foi chamar o mágico e montar mais uma operação de alquimia: a Eletrobrás reconhece dívida de R$ 9 bilhões, que antes questionava, a Petrobrás emite títulos lastreados nessa dívida e garantidos pelo Tesouro e vende esses papéis no mercado sabe-se lá com que deságio. Resultado: com as finanças também combalidas, a Eletrobrás sai ilesa e não subtrai um tostão na operação; para a Petrobrás entra o dinheiro abatido pelo deságio; e, para o contribuinte de impostos, resta pagar a conta ao Tesouro.
A esse roteiro de desmoralização da maior e mais prestigiada empresa do País, orgulho dos brasileiros, o PT e os sindicatos assistiram não como contestadores, mas como protagonistas. O PT, beneficiado com 3% das comissões dos contratos entre a Petrobrás e empreiteiras, e os sindicatos, com suas lideranças ocupando cargos de chefia na Petrobrás.
Como Dilma Rousseff espera que os brasileiros acreditem em suas promessas de apurar crimes e punir corruptos "doa a quem doer", se seu partido inocenta políticos e empreiteiras no relatório final da CPI? Como petroleiros vão acreditar e respeitar seus sindicatos se eles nem sequer protestaram, ao contrário, calaram em cumplicidade diante de gestões irresponsáveis que há 12 anos desmoralizam a Petrobrás?
Um comentário:
A partir do momento que um governo da oposição atrasar um dia de salário, nós iremos ver a fúria dos sindicatos.
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