FOLHA DE SP - 12/11
Dimensão de escândalo na estatal parece ser maior obstáculo a sua elucidação; estímulo às apurações vem de órgãos internacionais
Se dependesse apenas dos políticos brasileiros, dificilmente as investigações sobre corrupção na Petrobras seriam conduzidas com a seriedade que o assunto merece.
Envolvendo inúmeros congressistas, governadores e ex-ministros, além de grandes financiadoras de campanhas, o esquema de desvios na estatal encontrava sua blindagem na força dos interesses a que servia. Em vez de encorajar apurações profundas, a própria dimensão do caso parecia constituir o maior obstáculo a sua elucidação.
O paradoxo começou a ser desfeito pelos acordos de delação premiada. Enquanto oposição e base governista insistem no teatro mambembe das comissões parlamentares de inquérito --criadas antes para dar satisfação ao público do que para esclarecer alguma coisa--, dois personagens centrais decidiram contar à Justiça o que sabem.
Em troca de penas mais brandas, Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, e o doleiro Alberto Youssef descreveram o processo de pilhagem.
Destinavam-se a PT, PP e PMDB o equivalente a 3% de negociações feitas pela estatal. Se políticos e funcionários da companhia se locupletavam de propinas, as empresas privadas que participavam dessa engrenagem corrompida assinavam contratos suculentos com a Petrobras. Todos ganhavam.
Uma vez tornado público o esquema, no entanto, muitos descobriram o quanto tinham a perder --a começar do governo Dilma Rousseff (PT), que, além de se preocupar com o estrago que o caso possa fazer em suas entranhas, teme possíveis prejuízos à imagem da maior estatal brasileira.
Segundo publicou o jornal inglês "Financial Times", as negociatas da Petrobras estão sendo investigadas pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e pela SEC (Securities and Exchange Commission, principal agência reguladora do mercado de capitais americano).
As autoridades daquele país apuram eventual violação a uma lei americana de combate à corrupção praticada no exterior ou por empresas que, como a Petrobras, tenham ações negociadas nas Bolsas de Valores dos EUA.
O Planalto calcula com razão que, a depender do que for descoberto por esses órgãos, poderá ser grande o impacto negativo nos negócios e investimentos da estatal com parceiros estrangeiros.
Nesse cenário, o expurgo da Petrobras não poderá, passe o trocadilho, ser apenas para inglês ver. As explicações a respeito do caso e as ações adotadas a fim de corrigir desvios precisarão convencer agentes internacionais para os quais pouco importam os interesses dos políticos brasileiros.
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