A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou ontem um aumento médio de 19,23% nas contas de luz pagas pelos cerca de 4 milhões de consumidores da Light, concessionária que atende a 41 municípios do Rio Janeiro. A empresa havia solicitado reajuste entre 20% e 25% para fazer face aos preços que tem sido obrigada a pagar pela energia comprada das geradoras termelétricas.
Essa é apenas uma das contas que, desde o início do ano, o setor elétrico vem transferindo para o bolso dos consumidores brasileiros. Em agosto, as tarifas de luz cobradas no Distrito Federal foram aumentadas, em média, em 18,88%. Meses antes, em março, os clientes da Cia. Energética de Minas Gerais (Cemig) foram "premiados" com 14,24% de aumento médio (a concessionária tinha pedido algo próximo a 19%), pelas mesmas pressões de custo.
Esses não foram os únicos reajustes. Toda a população do país que não vive no escuro vem sendo chamada a pagar aumentos de tarifas que não eram vistos desde os maus tempos da hiperinflação que assolava o país antes do Plano Real (junho de 1994). De Roraima ao Rio do Grande do Sul, ninguém escapou. No caso dos clientes da Light e, brevemente, dos que são atendidos pela CPFL Piratininga e Bandeirante, em São Paulo, o aumento agora autorizado poderia ter sido menor. Mas o governo não está às voltas apenas com os problemas dos setor elétrico. Por isso, esses consumidores foram chamados a pagar antecipadamente por uma parte do "aumentão" adiado para 2015.
Apertado com o descompasso entre gastos e receitas, o governo decidiu, em setembro, suspender o envio de R$ 4 bilhões para uma conta de ajuda às distribuidoras de energia elétrica. Era com essa verba que elas vinham compensando parte do prejuízo causado pela compra da energia mais cara.
Os aumentos autorizados para a Light - 19,11% para os clientes residenciais e 19,46% para os industriais - são um aviso aos consumidores das demais regiões do Brasil de que devem esperar pelo pior. Além de bater diretamente na conta de luz doméstica, esses reajustes três vezes mais altos do que a inflação prevista para o ano (6,5%) vão pesar nos custos da produção industrial. Isso significa não apenas mais inflação, como menos capacidade de exportar de nosso enfraquecido parque industrial.
A propósito, é em boa parte graças à queda da atividade industrial que o governo tem escapado do constrangimento de enfrentar um apagão de eletricidade. A seca prolongada vem baixando o nível dos reservatórios do parque hidrelétrico desde o ano passado. À medida que essa situação foi se agravando ao longo do ano, não faltaram especialistas para alertar o governo para a necessidade de acelerar a implantação de projetos de ampliação da capacidade de armazenamento dos reservatórios nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, além de patrocinar uma campanha de economia de energia.
Nada disso foi feito. Pelo contrário. De olho no calendário eleitoral, o governo incentivou o consumo de eletricidade, baixando os impostos de eletrodomésticos e eletroeletrônicos, sob o pretexto de manter o nível de empregos. Mais consumo convivendo com menos geração hidrelétrica resultou no funcionamento ininterrupto das termelétricas e na situação que colocou em crise o setor elétrico. Agora, que o povo pague a conta.
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