FOLHA DE SP - 07/10
SÃO PAULO - O resultado da eleição surpreendeu? É claro que sim. Poucos dias atrás, eu, a torcida do Corinthians e a maioria dos analistas considerávamos Aécio carta fora do baralho, mas é ele e não Marina quem disputará o segundo turno com Dilma. O que ocorreu?
Poderíamos jogar a toalha e dizer que a política não é pautada pela lógica, desistindo de qualquer tentativa de previsão. Mas, antes de entregar os pontos, imaginemos um antropólogo marciano que tenha visitado o Brasil em julho, quando Dilma liderava e Aécio vinha em segundo, e que tenha retornado ontem. Para o marciano, não houve surpresa alguma.
A candidata governista está na dianteira, o que é perfeitamente natural nas democracias que permitem a reeleição, mas a oposição cresceu, o que também é normal dado o mau desempenho da economia e o desgaste de 12 anos de administração petista, e disputará com chance o segundo escrutínio. Sob essa perspectiva, não só há lógica por trás do processo eleitoral como ela se mantém a mesma desde o início da corrida.
E Marina? Marina foi o ruído. Como explica Nate Silver, nossos cérebros, desenhados para detectar padrões, interpretam tudo como se fosse sinal, em vez de apreciar quanto ruído, isto é, quanta incerteza, existe nos dados. Vimos a subida de Marina como se fosse um "fait accompli", quando não era mais do que uma tentativa dos eleitores de formar um consenso em torno do nome que seria capaz de derrotar Dilma.
A maioria dos brasileiros parece disposta a despachar o PT para casa. A vontade difusa, contudo, não basta. É preciso também apontar um sucessor. Os oposicionistas começaram cerrando fileiras em torno de Aécio, depois flertaram com Marina, mas, como ela não deu, voltam para o mineiro. A questão é que é mais fácil formar um consenso em torno da ideia de que é preciso mudar do que de um nome específico. E, sem esse consenso, Dilma acabará ficando.
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