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O GLOBO - 23/10
Rússia e Irã acendem sinal de alerta diante da queda de cerca de 30% do preço do petróleo. Em situação mais frágil, para a Venezuela a luz é vermelha
A redução do crescimento da China, o fraco desempenho da economia global e a revolução energética nos EUA fizeram com que o preço do petróleo despencasse 30% desde junho — dos US$ 110 o barril, por quase quatro anos, para os US$ 80/90. E põe em situação difícil países da petrocracia, como Rússia, Venezuela e Irã, em que o poder é altamente dependente da receita dos hidrocarbonetos.
Os últimos indicadores mostram que a economia russa estagnou ou mesmo se contraiu em setembro, enquanto o rublo teve desvalorização recorde frente ao dólar e ao euro, contribuindo para uma elevação da inflação via encarecimento de produtos importados. Dados oficiais mostram que a inflação ao consumidor atingiu taxa anualizada de 8,3% no terceiro trimestre, a mais elevada do ano. Isto obrigaria o banco central a considerar a quarta elevação dos juros este ano. Apesar de dispor de amplo colchão de reservas cambiais acumuladas durante o período de bonança, a queda na receita e o efeito das sanções ocidentais, em função da questão ucraniana, criam uma situação delicada para o presidente Putin. A exportação de óleo e gás responde por cerca de metade da receita do governo russo. A alternativa seria cortar gastos ou aumentar impostos — o que desgastaria o Kremlin. O risco é a Rússia se tornar mais imprevisível em todos os sentidos.
A situação da Venezuela é muito pior. O país já sofre com desabastecimento, escassez de divisas, inflação anual acima de 60% e desinvestimento público e privado. O país acumula pagamentos atrasados de US$ 2 bilhões somente a empresas brasileiras. A queda do petróleo deverá levar ao limite a capacidade do governo chavista e da própria população de resistir ao impacto. Caracas precisaria do barril a US$ 120 para financiar programas sociais, base de sustentação do chavismo. O agravamento da crise pode levar a situações imprevisíveis.
O presidente Nicolás Maduro, como antes Hugo Chávez, se apoia nas Forças Armadas, cujos oficiais detêm altos cargos. Não se pode afastar o risco de uma intervenção militar direta, diante de um quadro de insegurança e agitação social.
Thomas L. Friedman, colunista do “New York Times”, vê um viés geopolítico na baixa do petróleo, provocada, em parte, pelo espetacular aumento da produção de gás não convencional nos EUA, que reduz, e pode acabar, a dependência americana do petróleo importado. Isto pune rivais — Rússia, Irã e Venezuela. E, em certa medida, interessa ao aliado americano entre os grandes produtores, a Arábia Saudita, inimiga do Irã. Mas, diante do avanço de um inimigo maior, o Estado Islâmico, EUA e Irã se aproximam, Irã e sauditas conversam. Sofre mais quem está sob sanções: Rússia e Irã. Mesmo sem elas, a Venezuela afunda. O petróleo mexe com a geopolítica mundial.
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