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GAZETA DO POVO - PR - 20/09
O problema maior do Brasil é a existência simultânea de vários indicadores ruins
As agências internacionais de classificação de risco existem para estudar os países, acompanhar o desempenho de suas economias, avaliar o ambiente político e a estabilidade jurídica, com a finalidade de extrair conclusões técnicas a respeito da capacidade do país em pagar os empréstimos tomados no exterior pelo governo e pelas empresas nacionais. À moda das escolas, essas agências atribuem aos países determinadas notas resultantes dos exames e provas que aplicam. A nota reflete a saúde econômica, financeira, política e social do país.
Após décadas de inflação e baixo desempenho econômico, o Brasil conseguiu atingir a nota conhecida por “grau de investimento”, que é atribuída aos países considerados em situação bastante boa, com capacidade de tomar dinheiro emprestado no exterior e pagar normalmente as dívidas nas datas de seu vencimento. O Brasil foi aprovado nos testes, como consequência da melhoria econômica e social obtida desde que a inflação foi domada a partir do Plano Real, em 1994.
Além de mais facilidade na obtenção de crédito no exterior, a melhoria da nota do país implica taxa de juros mais baixa nos emprestadores internacionais, diminuindo o desembolso com o pagamento de encargos da dívida em moeda estrangeira. Por outro lado, bancos, fundos de pensão e fundos de investimentos sediados no exterior têm, em seus estatutos, regras para fazer empréstimos a governos e empresas situadas em país estrangeiro. Em muitos casos, somente podem ser concedidos empréstimos a países que, na classificação de risco feita pelas agências, obtêm notas a partir de um dado nível. Inversamente, são proibidos os empréstimos a governos e empresas situados em países com notas que implicam risco de calote.
O Brasil somente conseguiu obter elevação de sua nota após ter alcançado bons fundamentos macroeconômicos por vários anos, com destaque para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), o controle da inflação, a melhoria das contas externas e o superávit fiscal primário. Tornando-se um país de economia menos vulnerável e apresentando situação externa saudável, a taxa de juros paga por empresas nacionais e pelo governo brasileiro caiu, pois a taxa de risco embutida no custo total dos empréstimos internacionais foi reduzida.
Na semana passada, a agência Moody’s colocou a nota do Brasil em perspectiva negativa. Durante o tempo em que a nota é mantida, é hábito da agência dizer se a avaliação segue com perspectiva de ser melhorada, mantida estável ou piorada. As razões que levam uma agência de classificação de risco a colocar a nota em perspectiva negativa estão na piora dos indicadores econômicos. Esse é o caso do Brasil. Baixo crescimento do PIB por vários anos, inflação acima do centro da meta fixada pelo governo, piora das contas fiscais, aumento do déficit público nominal e crescimento preocupante da dívida consolidada do governo são os indicadores que fizeram acender o sinal vermelho da agência.
Todo esse panorama significa uma espécie de reprovação internacional da situação brasileira e desaprovação da condução da política econômica. Porém, mais importante do que a advertência da agência Moody’s é a consciência de que o governo e a sociedade brasileira devem adotar uma reprovação interna e admitir que o país não está em bom caminho. Embora seja costume do governo – em especial do ministro da Fazenda, Guido Mantega – tentar sempre desqualificar as críticas e não admitir seus erros, desta vez tanto a presidente Dilma quanto o ministro resolveram não atacar a agência, mas ainda assim tentaram minimizar a perspectiva negativa.
O momento talvez não seja dos melhores para o debate em torno da situação econômica, já que a proximidade das eleições faz que o jogo eleitoral prevaleça sobre a lógica e a razão. Entretanto, os fatos não podem ser colocados de lado e a economia segue seu curso, com suas virtudes e seus defeitos. O problema maior do Brasil é a existência simultânea de vários indicadores ruins, alguns de natureza interna, outros de natureza externa. Entre estes últimos, o mais grave é o déficit resultante das importações menos as exportações de bens e serviços, que ameaça corroer rapidamente o volume de reservas internacionais do país.
Passadas as eleições e definido quem será o futuro presidente, o país não escapará de debater a situação econômica e quais medidas precisarão ser tomadas para a recuperação da economia nacional.
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