PARA PRESIDENTE VOTE AÉCIO NEVES 45
FOLHA DE SP - 20/09
Gradual decréscimo de Marina Silva nas pesquisas se explica tanto pelos ataques recebidos como por fragilidades próprias
Os números da última pesquisa do Datafolha parecem dar consistência à tese de que haveria um componente emocional na súbita ascensão das preferências por Marina Silva (PSB) após o acidente que vitimou seu companheiro de chapa, Eduardo Campos.
A solidariedade diante da tragédia ou a repentina descoberta, por parte do eleitorado, de que a disputa presidencial não se resumia à alternativa entre PT e PSDB estariam, assim, por trás dos altos índices atingidos pela candidata.
Dos 21% que obtinha no levantamento realizado em 14 e 15 de agosto, imediatamente após a morte de Campos, Marina Silva passaria a 34% duas semanas depois, empatando com a primeira colocada, a presidente Dilma Rousseff (PT).
Se o fator emocional fosse o mais determinante, contudo, o declínio da ex-ministra do Meio Ambiente seria mais acentuado. Mas sua trajetória cadente nas últimas semanas se mostra bastante gradual --e acompanhada de discreta recuperação nos índices tanto de Dilma como de Aécio Neves (PSDB).
Ainda que muitas causas possam ser atribuídas a essa oscilação sutil, é plausível que, antes de um fenômeno puramente emocional, esteja em curso uma corrosão política da postulação marinista.
Não foram poucos os ataques que recebeu. Houve a tentativa de lhe atribuir uma imagem de subserviência ao mercado financeiro --como se o PT, em desespero de causa, estivesse de volta aos tempos estreitos de 1989--, assim como uma incipiente campanha do medo em torno da inconvincente ideia de que sua vitória poderia acarretar o fim do Bolsa Família.
A tática poderá ter surtido efeito nos setores de menor renda do eleitorado; nos municípios com menos de 200 mil habitantes, foi especialmente intenso o crescimento dos índices de rejeição à pessebista.
Também se vê a queda, porém, em outras parcelas da sociedade. Desse ponto de vista, a ofensiva dos adversários de Marina pode ser entendida como a tradução publicitária das fragilidades e inconsistências de sua própria candidatura.
Desmentidos sucessivos e ajustes emergenciais de discurso --na questão do casamento homoafetivo, na política energética, nas relações com o agronegócio, nas diferenças de imagem entre ela e seu vice-- talvez sejam sinal do quanto uma postulação de "terceira via" ainda carece de maturação ideológica para blindar-se contra as investidas dos oponentes.
Quanto a estes, beneficiam-se de uma divisão ideológica real, a que entretanto se esquivam numa mesma inexplicitude programática. A velha política --da qual Marina Silva, aliás, não se afasta tanto quanto quer aparentar-- continua, silenciosamente, a dar suas cartas num jogo ainda indefinido.
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