FOLHA DE SP - 19/09
O que vemos hoje é o embate entre Dilma e Marina, um espetáculo pouco edificante. Enquanto isso, Aécio Neves apresenta suas propostas
A disputa eleitoral começa a entrar em sua fase aguda. Como sempre, em função das pesquisas, que mostram um quadro momentâneo, alguns cantam vitória antecipada. Outros, quando a derrota lhes parece inevitável, entregam-se, seja por desânimo, por indigência intelectual ou por puro oportunismo, e passam a procurar o "menos pior".
É o que acontece com a disputa presidencial deste ano. Em razão de um triste episódio --a morte de Eduardo Campos--, surgiu uma nova candidata, Marina Silva (PSB), que aparece em primeiro ou segundo lugares nas pesquisas, como se fosse uma das contendoras inevitáveis no segundo turno.
Minha experiência é repleta de episódios de disputas em que profundas modificações se dão no processo eleitoral, produzindo grandes mudanças na intenção de voto dos eleitores até o dia da votação. Já assisti a isso em eleições em todos os níveis. Fernando Henrique perdeu a eleição para prefeito de São Paulo nas 48 horas que antecediam a eleição de 1985. Luiza Erundina venceu o pleito municipal em São Paulo, em 1988, na última semana, atropelando Paulo Maluf e João Leiva.
Em 1989, na sucessão de José Sarney, tudo fazia crer que Brizola venceria. Para surpresa geral, o desconhecido Fernando Collor cresceu, acompanhado de Lula. Os dois foram para o segundo turno e Brizola ficou de fora. Na última disputa municipal em São Paulo, o azarão Celso Russomano parecia imbatível, disputaria sem qualquer dúvida o segundo turno. Não foi o que ocorreu.
O caso mais emblemático que vivi semelhante com o que está ocorrendo até agora foi em 1986, na disputa ao governo de São Paulo. O quadro no início da campanha era Maluf em primeiro, Orestes Quércia logo atrás. Inesperadamente, e já próximo à data da eleição, o PTB lançou Antônio Ermírio de Moraes, empresário de respeito, que imediatamente apareceu em segundo, muito perto de Maluf, jogando Quércia para baixo (com 9 % nas pesquisas).
Quércia parecia liquidado, a questão seria escolher Maluf ou Antônio Ermírio (não havia segundo turno) e muitos bandearam-se para o empresário, considerado o "mal menor". O resultado final foi Quércia vitorioso, Antônio Ermírio em segundo e Maluf lá atrás.
O processo eleitoral é complexo e muitos fatores alteram a intenção dos eleitores expressa nas pesquisas quase que de um dia para o outro. A pesquisa não tem o dom de prever o futuro, apenas retrata o presente. Na atual eleição presidencial, a mobilidade das intenções de voto dos eleitores é patente, e não poderia ser de outra forma.
Alguns números são relativamente estáveis, como o índice de rejeição da presidente Dilma Rousseff, que fica acima de 30%, com menos de 40% das intenções de voto a seu favor e a vontade de mudança expressa por 70% do eleitorado. Mas está em evolução o nível de conhecimento de Aécio Neves, ainda baixo, ao contrário dos índices altos de Dilma e Marina.
O que se vê hoje é o embate em que se meteram as duas respeitáveis candidatas que, se de um lado mostra um espetáculo pouco edificante na disputa eleitoral, por outro mostra o caráter e a personalidade de cada uma. Enquanto isso, Aécio acertadamente apresenta sua história e suas propostas.
Haverá um momento em que o eleitor se perguntará sobre quem é o melhor, levando em conta seus perfis e o que pensam das questões que são realmente importantes para a vida dos brasileiros e para o futuro da nação: petróleo, infraestrutura, preços, salários, inflação, crescimento econômico, democracia, valores éticos, escândalos. Tudo isso há de influir na decisão do eleitor.
Essa mobilidade já se mostrou nas primeiras semanas de campanha e se aprofundará nas seguintes à medida que a data fatal se aproxima. Quanto mais perto dela, mais a atenção do eleitor e mais decidida passa a ser sua intenção de voto. Até os últimos dias tudo pode acontecer.
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