sexta-feira, setembro 19, 2014

A injustiça social de Dilma - VINICIUS TORRES FREIRE

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FOLHA DE SP - 19/09

No que depende da renda, bem-estar ainda aumentou em 2013, mas país vai parando


A DESIGUALDADE DE RENDA no Brasil ficou na mesma entre 2011 e 2013, os três primeiros anos de governo de Dilma Rousseff. O bem-estar social no entanto aumentou bem nesses anos, inclusive no fraquinho 2013. Isto é, a renda de todas as classes cresceu. Ainda assim, a candidata-presidente Dilma Rousseff (PT) será avacalhada de modo extremo, portanto oportunista, culpada pelo fato de que a distribuição de renda parou de melhorar (não piorou).

A campanha petista vai provar um pouco do gosto do lixo ignaro que despejou na campanha marinista com aquela história de banqueiros do demo.

Isto posto, nem de longe está tudo azul ou rosa no Brasil que aparece no balanço anual da situação socioeconômica, publicado ontem pelo IBGE, a Pnad 2013.

Primeiro, porque em uma país ainda muito iníquo como o Brasil não é possível aceitar sem mais que a desigualdade deixe de diminuir. Segundo, porque ao menos parte dessa estagnação se deve ao baixo crescimento da economia dos anos Dilma. Terceiro, porque o governo não teve imaginação ou capacidade de alterar algumas características sociais e econômicas do país, as quais produzem desigualdade.

Repita-se que o bem-estar social, no que depende da renda, pode melhorar mesmo sem redução da desigualdade. Talvez a melhora se torne assim desnecessariamente mais lenta. A renda de todas as "classes" aumentou em 2013 ("classe" aqui é cada décimo em que é dividida a população). Mas os rendimentos dos 10% ou 20% mais pobres cresceram menos.

O que pegou? Provavelmente, reajustes menores do salário mínimo devido ao crescimento menor da economia, do PIB (o mínimo reajusta benefícios previdenciários e assistenciais, embora não o Bolsa Família). O crescimento menor do emprego também deve ter feito estragos.

É possível ainda que a redução adicional e rápida da desigualdade dependa agora de programas política e economicamente mais difíceis de implementar. Para dar dois exemplos elementares:

1) Mexer nos impostos de modo a favorecer os mais pobres, assim como melhorar a redistribuição de renda (as transferências de renda nem sempre favorecem os mais pobres);

2) Melhorar a educação e a infraestrutura de modo a retirar os mais pobres de trabalhos improdutivos, quando há trabalho, em especial em cafundós sem infraestrutura (sem estrada, sem acesso a mercados etc.): agricultores de subsistência, catadores em geral, prestadores de serviços primitivos, empregados do microcomércio precário, para ficar apenas em casos aberrantes.

Mas há mais: o Brasil tolera que se empreguem pessoas em ocupações de produtividade e salários baixos (para não falar do desperdício humano): frentista, cobrador de ônibus, porteiro, segurança. Falta de escola e baixo investimento dá nisso.

O governo até que se mexeu um pouquinho, com Pronatec, subsídios para faculdades (ruins...) e microcrédito. Mas é muito pouquinho. A escola básica é o que sabemos, e o investimento em infraestrutura (ou quase qualquer outro) decresceu devido à política econômica ruim.

A Pnad aliás diz coisas interessantes sobre escola, infraestrutura social e consumo. Mas isso fica para outro dia.

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