Tendo sido mais afetado do que outros países emergentes pela crise iniciada há seis anos no mundo rico, o Brasil é um dos que menos podem ganhar agora que as economias desenvolvidas começam a se recuperar. O governo petista, quando chefiado por Lula, desdenhou a crise mundial - era só uma "marolinha", dizia ele - e impôs ao País um custo pesado em termos de crescimento, que a sociedade já paga e continuará pagando por algum tempo; na gestão Dilma, agravou problemas antigos e criou novos.
A falta de dinamismo das exportações - notável pela perda contínua dos espaços do produto nacional em mercados tradicionais, como os dos Estados Unidos e da Europa unificada, mostrada pelo Estado (13/8) - é uma das consequências nocivas para a economia brasileira de 12 anos de governo petista.
A presença brasileira nos mercados dos países industrializados, consolidada por anos de relações comerciais profícuas, seria um poderoso instrumento para estimular a atividade produtiva, no momento em que os seguidos incentivos ao consumo doméstico dão claros sinais de esgotamento - os já fracos resultados dessa política se tornam cada vez mais tênues. Mas, por uma série de erros da administração petista - uns decorrentes da má escolha de parceiros comerciais, determinada por interesses ideológicos; outros, de sua incapacidade de avaliar as dificuldades que tolhem a produção -, o Brasil tem poucas possibilidades de utilizar esse instrumento.
No comércio com os 26 países da União Europeia, o Brasil passou de um superávit de US$ 3,2 bilhões no primeiro semestre de 2009 para um déficit de US$ 2,6 bilhões nos primeiros seis meses deste ano.
Há alguns anos, por desinteresse do governo petista nesse mercado, o Brasil é um dos raros países que registram déficit no comércio com os Estados Unidos, que, apesar de sua enorme capacidade de produção, sempre foram um grande importador. O problema é que o déficit mostra tendência de crescimento desde 2009. Há cinco anos, o saldo negativo no primeiro semestre foi de US$ 2,5 bilhões; neste ano, está em US$ 4,7 bilhões.
Os EUA e a Europa recuperaram a capacidade de importação que tinham antes da crise, diz o consultor de empresas e ex-secretário de Comércio Exterior do governo Lula Welber Barral. Mas o espaço antes ocupado por produtos brasileiros está sendo tomado por outros países, sobretudo asiáticos.
O forte crescimento da economia chinesa compensou, parcialmente, a perda das exportações para os países industrializados. Nos últimos anos, a China tornou-se o principal parceiro comercial do Brasil. Mas, embora ainda vultoso, da ordem de US$ 5,5 bilhões no primeiro semestre, o superávit comercial brasileiro no comércio com a China está estagnado.
Movido por razões ideológicas, o governo do PT concentrou a atenção de sua política comercial no Mercosul, que, após a chegada dos petistas ao poder, incorporou a Venezuela então governada pelo bolivariano Hugo Chávez e hoje sob o domínio de seu seguidor Nicolás Maduro. Por um momento, a escolha parecia pouco nociva para a economia brasileira, pois o superávit comercial do País com o bloco cresceu nos primeiros anos que se seguiram ao início da crise mundial. Mas há três anos o saldo positivo vem encolhendo. Depois de ter chegado perto de US$ 4 bilhões nos primeiros seis meses de 2011, o superávit se reduziu para US$ 1,7 bilhão no primeiro semestre de 2014. Em crise, a Argentina, principal parceiro comercial do Brasil no Mercosul, vem reduzindo suas importações, tanto pela desaceleração da atividade econômica como, sobretudo, pelas restrições que o governo chefiado por Cristina Kirchner - que, ainda assim, é tratada com deferência por Dilma - impõe aos produtos brasileiros.
Tolhida por impostos excessivos, infraestrutura precária e falta de mão de obra treinada e prejudicada por políticas públicas que desestimulam a busca de mais produtividade, a indústria está perdendo o mercado que ainda pode abastecer - o Mercosul - e não tem condições de conquistar novos. É o retrato do governo petista.
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