O GLOBO - 13/08
Entra eleição, sai eleição, tão certo quanto a noite chega ao fim do dia, as campanhas presidenciais são marcadas por baixarias. As denúncias se sucedem, desde o nível municipal até o Palácio do Planalto, que este ano entrou no circuito de campanha à medida que foram se perdendo ao longo do tempo as divisas entre o governar e o uso eleitoral do governo, entre o público e o privado na sua acepção mais ampla.
Usar o Palácio para propaganda eleitoral, usar viagens presidenciais para gravar programas de propaganda de governo, tudo vai se misturando em todos os níveis do Estado brasileiro, piorando o que já era ruim. As regras complacentes para a atuação dos incumbentes que se candidatam à reeleição foram feitas com esse propósito, de alargar os limites do aceitável.
Por isso, é muito grande a chance de um governante se reeleger. Esgotada a capacidade de mobilizar a sociedade à base de promessas que não se realizaram, o PT passou a adotar a tática do medo contra seus adversários, especialmente os tucanos, que haviam usado a mesma tática em 2002 sem resultado, pois naquela ocasião o ambiente político pedia mudanças.
Os tucanos pagam até hoje pelo erro político de terem aprovado a reeleição para o mandato de Fernando Henrique, o que à época parecia uma providência necessária para garantir a continuidade do Plano Real, e hoje se tornou um golpe político a purgar. Não é por acaso que o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, tem como um dos projetos o fim da reeleição.
Apesar do mensalão em 2005, Lula se reelegeu em 2006 na base da ameaça de que os programas sociais corriam perigo sem ele na Presidência, e com uma campanha contra as privatizações que o então candidato tucano Geraldo Alckmin não soube combater. Foi nessa campanha que surgiram os aloprados, presos com dinheiro em um hotel em São Paulo para a compra de dossiês contra os tucanos, especialmente José Serra, que acabou se elegendo governador de SP.
Em 2010, a baixaria começou cedo com dossiês contra Serra, então candidato à Presidência, surgindo no QG de Dilma, e mais adiante a invasão de dados de familiares de Serra na Receita Federal.
Nesta atual campanha, a internet tem sido usada de maneira desabrida contra Aécio, e de maneira generalizada contra jornalistas e políticos considerados inimigos do regime. A tensão tende a ser maior durante a campanha, pois, mesmo sendo Dilma a favorita para vencer a eleição, nunca a vitória esteve tão ameaçada, seja pela fragilidade de seu governo, seja pelo anseio de mudanças na condução do país.
Apesar dos pesares, a resiliência da candidatura petista é uma demonstração de como quem está no governo tem instrumentos para continuar, mesmo com a economia em pandarecos e com crescimento médio abaixo de 2% ao ano nos últimos quatro anos. A questão é saber se a velocidade das notícias ruins combinará com o timing das urnas, e não é à toa que os petistas voltaram a falar com força em uma vitória no 1º turno.
A falta de mobilidade das candidaturas, todas elas praticamente em linha reta há alguns meses, e a insistência de um eleitorado desiludido em votar branco ou nulo ou se ausentar da eleição faz com que esse sonho de vitória imediata volte a ser factível.
Além do mais, pesquisas mostram que num eventual e ainda provável 2º turno, os candidatos de oposição ganham novo alento diante do duelo entre Dilma e qualquer um deles. Todas mostram a possibilidade real de um empate técnico entre Aécio e Dilma.
Já Eduardo Campos se aproxima a cada rodada de Dilma, reduzindo a diferença que, no 1º turno, é grande.
Quando ele é a única opção oposicionista, suas chances crescem com o voto útil, o que mostra uma tendência de mudança na motivação do eleitorado.
Estudos de Macrométrica do economista Chico Lopes, utilizando-se de um programa do matemático americano Nate Silver, perito em previsões corretas dos resultados eleitorais hoje com um blog no "The New York Times", mostram que Aécio pode vencer no 2º turno se o número de brancos e nulos e mais as abstenções forem nos níveis normais das eleições anteriores. Se, no entanto, confirmar-se a tendência de denunciar os métodos políticos em prática rejeitando as eleições, o efeito deverá ser contrário, confirmando na Presidência quem a maioria quer ver fora, segundo as pesquisas. Será esse o caso se os oposicionistas não conseguirem reverter a situação em que o desânimo derrota a esperança.
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