FOLHA DE SP - 23/05
Nível de emprego nas metrópoles empacou faz sete meses, mas sabemos pouco do outro Brasil
MENOS GENTE procura trabalho, e o número de pessoas empregadas está praticamente estagnado desde outubro de 2013, está muito claro e sabido, situação confirmada outra vez pela pesquisa mensal de emprego do IBGE de abril, divulgada ontem.
Apesar do baixo desemprego, tal situação sugere que a economia esfriou e implica a princípio que há um empecilho adicional para a retomada do crescimento (força de trabalho estagnada). A pesquisa mensal do IBGE, porém, trata apenas do mercado de trabalho de seis metrópoles, São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador e Recife. O que acontece no resto do Brasil?
Não sabemos muito bem, ainda. O que sabemos cria alguma confusão na análise, pelo menos a respeito do futuro da oferta de trabalho. Que a economia está esfriando, parece não haver muita dúvida.
A interpretação do que se passa no país fica nebulosa devido a informações de outra pesquisa do IBGE, a Pnad Contínua.
No início deste ano, como se sabe, o IBGE passou a divulgar outra estatística de desemprego, de abrangência nacional, com dados de emprego para cada trimestre desde janeiro de 2012. A informação mais recente da Pnad Contínua refere-se ao quarto trimestre de 2013.
A estagnação da oferta de trabalho e do emprego nas grandes metrópoles começou justamente em outubro de 2013. No entanto, na comparação com 2012, o trimestre final de 2013 na Pnad Contínua (de âmbito nacional) parece bem melhor que o trimestre final de 2013 na Pesquisa Mensal de Emprego (PME, restrita a seis metrópoles).
A ocupação (gente trabalhando) e a oferta de trabalho (gente empregada ou à procura de emprego) crescem na Pnad, caem na PME. Tal comparação, porém, é arriscada.
Primeiro, não se conhecem as manhas da Pnad contínua, que é muito recente (trata de apenas dois anos, ante os 12 anos da PME); não se sabe como, nesta pesquisa, o emprego reage a outras mudanças.
Segundo, a Pnad Contínua é trimestral. Terceiro, abrange mercados de trabalho ainda mais diferentes entre si que aqueles da PME (inclui cidades médias, pequenas, grotões, o dinâmico Centro-Oeste, o rico interior paulista etc). A qualidade dos empregos e as idas e vindas desses mercados são diferentes.
A abrangência nacional da Pnad Contínua a princípio vai permitir que se contem histórias, se façam interpretações e políticas públicas melhores. Isto posto, a Pesquisa Mensal de Emprego não deixa os analistas a pé quando se trata de interpretar as ondas de variação do crescimento da economia, ora em baixa.
Mas a aparente divergência na situação do emprego nas metrópoles e no conjunto do país cria dificuldades temporárias para projeções de médio prazo, como aquelas que apontam o problema de a oferta de trabalho no Brasil crescer cada vez menos, tendência derivada do ritmo menor de crescimento da população (quão devagar? Onde?).
No momento, em seis metrópoles, a quantidade de gente disposta a trabalhar cai provavelmente porque mais jovens preferem estudar, porque a renda das famílias cresceu e porque deve haver mais gente desanimada de procurar emprego, pois a economia anda devagar. É uma situação anormal de desemprego em baixa recorde e de nível de emprego estagnado faz um semestre.
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