GAZETA DO POVO - PR - 05/05
Se solucionar ao menos em parte seus problemas logísticos, o país vai se tornar ainda mais competitivo no mercado da oleaginosa
O agronegócio e, consequentemente, a economia brasileira são cada vez mais movidos a soja. É o que mostra o avanço do grão na composição do Valor Bruto da Produção (VBP) da agropecuária. A arrecadação do setor primário está crescendo e os segmentos ligados ao campo se beneficiam desse ciclo de expansão sem data para terminar. Considerando apenas esta década, a oleaginosa subiu 2,5 pontos no VBP do Paraná, e 3,7 pontos no VBP nacional. O estado e o país estão ampliando a cada ano a área cultivada com soja e esses números significam que a estratégia resultou em crescimento da renda.
O VBP mede a arrecadação de “dentro da porteira”, ou seja, não traduz a realidade da indústria e da prestação de serviços. No entanto, o faturamento de setores como o de transporte e o de processamento de grãos acompanham o crescimento da soja. Neste ano, o Paraná espera faturar R$ 14 bilhões com o grão e o Brasil, R$ 99 bilhões. Como as previsões de queda no preço da commodity não estão se concretizando, não será surpresa se o estado atingir R$ 15 bilhões e o país alcançar a marca histórica de R$ 100 bilhões em receita com o produto.
A liquidez e a rentabilidade da soja faz da oleaginosa a melhor opção para a agricultura. Não à toa, culturas como o milho, o feijão e a própria pecuária a pasto cedem espaço ao grão. Em abril, o Brasil registrou exportação de 8,2 milhões de toneladas de soja em grão. O volume é o novo recorde mensal, equiparado ao dos Estados Unidos, tradicional maior produtor, e agora segundo maior exportador. No ritmo atual, as exportações brasileiras devem atingir a estimativa de 45 milhões de toneladas do grão em 2014 com tranquilidade.
O Brasil vem ocupando mais espaço no mercado internacional da soja porque mostra-se competitivo ante seus principais concorrentes: Estados Unidos, Argentina e Paraguai. Embora não tenha a infraestrutura desejável na malha de transporte interno e nos portos marítimos, cobra menos impostos sobre o grão. É como se isso fosse uma compensação pelos engarrafamentos nas rodovias, pela falta de espaço nas ferrovias e pela sobrecarga nos portos, que resultam em descontos (prêmios negativos) nas cotações.
A produtividade da soja no Brasil equivale e, em alguns anos, deve passar a norte-americana. Daí vem a certeza de que a situação pode melhorar ainda mais. Se solucionar ao menos em parte seus problemas logísticos, o país vai se tornar ainda mais competitivo. Ou seja, existe margem para domínio ainda maior do mercado internacional da soja.
O principal importador do produto no mundo, a China, mostra-se um parceiro mais promissor do que a União Europeia, antigo líder na compra da produção brasileira. O Brasil continua atendendo antigos clientes, mas cresce ao se pautar na evolução da economia asiática e da própria demanda internacional.
E não é verdade que esse crescimento da participação da soja na economia brasileira ocorre por falta de esforços na agregação de valor ao produto primário. A China tem estrutura própria de processamento e compra soja em grão. Mesmo assim, na própria lista dos produtos com maior peso no VBP, estão itens diretamente relacionados ao complexo industrial da oleaginosa.
No Paraná, o segundo produto com maior participação no VBP agropecuário é o frango, com 15,1% (2013). Líder na produção e na exportação de carne de ave, o estado encontrou nesse setor uma forma de faturar mais sobre a colheita de grãos, uma vez que a ração do frango é feita à base de soja e milho. Os aviários e frigoríficos são indústrias de proteína ligadas à agricultura. Em âmbito nacional, o segundo produto é o boi (13,2%), cada vez mais tratado a ração, e o terceiro posto é que fica com o frango (11,4%).
O crescimento da soja dentro do VBP mostra que o grão se sustenta como uma alternativa lucrativa. A renda obtida com as vendas in natura cresce mais que a média, que abrange itens como as carnes, o leite, a cana-de-açúcar e outros grãos. E essa expansão merece ser vista como uma aposta acertada, não só pelo avanço do setor da oleaginosa em si, mas pelos resultados em cascata benéficos à economia como um todo.
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