O Estado de S.Paulo - 05/05
Metodologias criativas à parte, a notícia é que Aécio Neves (PSDB) subiu nas pesquisas MDA e Sensus. Foram feitas ao mesmo tempo, logo após o programa eleitoral tucano de rádio e TV, e apontam Aécio com 20% a 22% das intenções de voto, dependendo do rol de adversários. É um patamar acima do que ele aparece em institutos que pesquisam com mais constância e frequência: em torno de 16% no Ibope e Datafolha.
A diferença importa pouco para o eleitor, mas muito para o candidato.
Números, nesta fase pré-campanha, dizem menos do que tendências. A imobilidade de Aécio criava uma narrativa ruim: uma candidatura pesada, com dificuldade de decolar e aproveitar a perda de popularidade da presidente Dilma Rousseff. MDA e Sensus deram o empurrão que lhe faltava.
O PSDB pode agora dizer a empresários e a outros partidos que seu presidenciável está em alta. Mesmo que os sinais sejam contraditórios em relação a Ibope e Datafolha - e apesar do uso pelo Sensus de uma lista em que Aécio aparece antes dos demais candidatos na hora de estimular o eleitor a dizer sua preferência (em vez da tradicional cartela circular que não privilegia qualquer dos nomes pesquisados).
A notícia cria confusão, alimenta a desconfiança sobre as pesquisas em geral e troca a narrativa sobre o imobilismo do tucano por uma polêmica envolvendo institutos e metodologias. Para a maioria que não está prestando atenção à campanha eleitoral o que sobra é um ruído: Aécio subiu. Seu nome ganha evidência e pode até subir de fato.
Mais do que se aproximar numericamente de Dilma, é importante para o tucano distanciar-se de Eduardo Campos (PSB). Entre empresários que querem o PT fora do poder - fonte indispensável de apoio financeiro para qualquer oposicionista - o pernambucano tem mais simpatia do que o mineiro. Por um cálculo frio: num segundo turno, Campos teria todos os eleitores de Aécio, mas Aécio não teria todos os de Campos.
De fato, o eleitorado do candidato do PSB se assemelha ao de Dilma - por exemplo, concentra-se no Nordeste. Em caso de disputa mano a mano entre a presidente e Aécio, temem esses financiadores, parte dos eleitores de Campos votaria na petista. Numa disputa apertada como a que se prenuncia, pode ser a diferença que a reelegeria. Já o eleitor de Aécio é tão antipetista que só lhe restaria votar em Campos.
Por isso é importante para Aécio mostrar que está conseguindo ampliar e diversificar seu eleitorado. E é por isso que as pesquisas dos dois institutos mineiros vieram na hora certa para ele. Ambas sugerem uma inesperada transfusão de eleitores de Dilma diretamente para o tucano (e só para ele), sem parar na coluna dos brancos, nulos e indecisos.
A feliz coincidência tem ainda mais efeitos positivos para Aécio. Serve de argumento para ele tentar impedir a coligação do PT de Dilma com o PMDB e outros partidos donos de preciosos minutos de propaganda eleitoral. Os peemedebistas nem precisam acreditar no argumento. Basta fingir que acreditam, e seu passe ficará ainda mais valorizado - poderão cobrar mais caro para fechar uma aliança, com quem for.
Como se vê, as pesquisas, a um só tempo, narram a corrida entre os candidatos e desencadeiam fatos políticos que interferem no ritmo da própria corrida. Tal interferência é consequência inerente a toda tentativa de medição, em qualquer área. É inútil tentar impedi-la. Sempre haverá os termômetros precisos e os defeituosos, fabricantes conscienciosos ou não. Nada disso se muda por decreto ou proibição.
As discrepâncias se corrigem com quantidade. Quanto mais pesquisas, melhor. Elas são o melhor instrumento para a sociedade vigiar os institutos, comparando-as umas às outras. Como há muito se sabe e se pratica nos EUA, os pontos fora da curva se anulam, as diferenças se corrigem e as pesquisas, na média, acabam dando os rumos da eleição.
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