FOLHA DE SP - 11/05
Até agora o neto rodou o programa que em 1984 deu a Presidência ao avô: joga parado, e está dando certo
A indicação da pesquisa Datafolha de que hoje Aécio Neves é o candidato com mais probabilidades de chegar a um eventual segundo turno numa disputa com Dilma Rousseff recomenda que seus adversários estudem a campanha que levou seu avô à Presidência em 1985.
Até agora Aécio jogou parado. Tudo o que ele precisa é chegar ao segundo turno, sem inimigos de morte e com o máximo possível de acordos. Aécio precisa de votos que há quatro, oito ou doze anos foram para o PT. Em circunstâncias diferentes, Tancredo precisava chegar a uma eleição direta com o apoio de eleitores da bancada do governo.
Indo para uma eleição direta, Aécio ainda não anunciou um programa substantivo. O avô fez melhor, elegeu-se indiretamente sem anunciar programa algum. Essa mágica foi inteiramente eficaz para o avô, mas é duvidoso que o seja nas condições de hoje. Afinal, só 42% dos entrevistados dizem conhecê-lo, e são exatamente os outros 58% que precisam de motivos concretos para votar nele.
Aécio vem sendo beneficiado pela erosão de Dilma, provocada, entre outros fatores, pelo Lula-volta-Lula-não-volta. Tancredo foi beneficiado pela ambiguidade do presidente João Figueiredo, que alimentou a ideia da própria reeleição e não foi a lugar algum.
Tancredo encarnava o fim de um regime de vinte anos. Aécio quer encarnar o fim de um domínio democrático que pretende durar dezesseis. Com uma diferença: tanto na ditadura, que durou 21 anos, como na República Velha, com seus 36, havia uma real rotação dentro do grupo governante. Com o PT no Planalto jamais houve essa rotatividade.
Rodando o programa Tancredo 2.0, Aécio respondeu a um ataque de Marina Silva ("o PSDB sabe que já tem cheiro de derrota") com um calmante ("não vou cair na armadilha do PT que é dividir a oposição"). Até agora, deu certo, pois tudo o que pode dar errado com os adversários, errado dá. Contudo, Lula continua no banco de reservas, com 58% dos entrevistados achando que ele deve ser o candidato do PT.
GRANDE NEGÓCIO
Outro dia o bilionário Warren Buffett disse que está estudando um novo grande negócio, associado ao empresário brasileiro Jorge Paulo Lemann. Ele é o terceiro homem mais rico do mundo. O outro é o mais rico do Brasil.
Faz tempo, depois de ter comprado as Lojas Americanas, Lemann disse a um sócio: "Agora vamos comprar a Brahma". O outro achou que ele queria tomar uma cerveja. Meses depois Lemann começou a negociar a compra da cervejaria.
Se Lemann disser que vai comprar um refrigerante, isso não significará que está com sede. Ele e Buffett poderão comprar a Pepsi, ou a Coca-Cola. Buffett é o maior acionista individual da Coca-Cola e votou contra os bônus milionários dados à diretoria da empresa.
RECORDAR É VIVER
Durante a campanha eleitoral de 2006, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, ligou para pelo menos um empresário paulista que tinha negócios com a companhia pedindo-lhe que recebesse um ministro. O encontro ocorreu, e o ministro pediu uma doação formal para a campanha do PT. Nada feito. Oito anos depois, vê-se no que deu o desembaraço do comissariado.
CAMINHÕES
O governo diz que a venda de caminhões caiu 14% neste ano. Um grande fabricante assegura que esse número é otimista. A queda estaria próxima dos 20%.
MAU SINAL
A doutora Dilma voltou a defender a necessidade de uma reforma política para consertar o país.
"Reforma política" é um bordão ao qual o governo recorre quando não tem o que dizer.
MET GALA
A festa anual do Metropolitan Museum foi uma beleza, mas Anna Wintour, a alma da noite, errou a mão ao sugerir que os homens fossem vestindo casaca e condecorações.
Metade dos convidados não atendeu ao pedido, no que fizeram muito bem.
Pelo menos dois foram de casaca, sem meias, o que é engraçado, mas deixa uma ponta de ridículo.
A maioria dos senhores de casaca mostraram-se desengonçados, uns pela roupa mal cortada, quase todos pelo colete branco desajustado; outros, pelo próprio chassis.
Alguns calçavam sapatos de cadarço mal engraxados. (O rigor inglês pede sapatilhas de verniz.)
O desastre deu-se com as condecorações. Apanágio na Inglaterra de La Wintour, as patacas não fazem parte da cultura americana.
Resultado: o mais enfeitado foi o fotografo Mario Testino. (O melhor conselho sobre condecorações é atribuído ao primeiro-ministro português Oliveira Salazar e também ao pensador francês Raymond Aron: "Nunca as peça, nunca as recuse e nunca as use".)
A noite foi ganha pela atriz Lupita Nyong'o, que vestiu uma instalação de pedras e penas verdes da Prada, sugestão de fantasia para o Império Serrano no próximo Carnaval.
AVISO AMIGO
As greves dos lixeiros e a dos motoristas de ônibus do Rio mandaram um recado ao empresariado: sindicatos de trabalhadores dirigidos por amigos não garantem paz.
Pelo contrário, jogam categorias nos braços de movimentos radicais e avulsos.
MAIS UM TELENEGÓCIO ESQUISITO
Está no forno, com o beneplácito do Planalto, uma curiosa transação. Articula-se na Europa a venda da TIM, a segunda maior operadora de telefonia do país, para a Oi. Uma pertence à Telecom Italia, que é controlada pela Telefónica espanhola. A outra é da Portugal Telecom. Uma empresa comprando outra e reduzindo o número de concorrentes já é coisa esquisita, mas há um segundo lance. Feita a compra, a TIM será fatiada. A Oi ficaria com um pedaço, outro iria para a Vivo, que pertence à Telefónica espanhola, que já é a maior operadora de Pindorama. O que sobrar iria para a Claro, mexicana.
São muitos os países em que a simples discussão desse enredo traz tenebrosas complicações legais. Nessa transação há mais duas curiosidades. O Brasil tem hoje quatro operadoras e sobrarão três. Não há no mundo tamanha concentração de mercado.
A segunda curiosidade será a expansão da Oi. Ela é filha da falecida Telemar, produzida pela privataria tucana e chamada de Telegang pelo então presidente do BNDES. Na privataria petista, anunciou-se que a sua associação com a Portugal Telecom criaria a SuperTele brasileira. Fantasia. Criou-se e expandiu-se a SuperTele portuguesa, para alegria de Lula, ao tempo em que ele anabolizava as "campeãs nacionais". Boa parte do dinheiro saíra do BNDES e tomara o rumo devido.
Os donos dessa ideia já convenceram o comissariado de que convém ao governo e ao mercado o sumiço de uma operadora e a contração da concorrência. Falta explicar aos consumidores.
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