CORREIO BRAZILIENSE - 02/04
Comprovadamente, o Brasil é um grande predador de energia, incapaz de combater o desperdício com mudanças de tradicionais hábitos da população. Já tivemos iniciativas infrutíferas, com o escopo de sensibilizar os brasileiros sobre a imprescindibilidade do uso eficiente e racional da energia, relacionando-a às modernas questões ambientais e socioeconômicas do país.
É preciso consolidar, urgentemente, essas mudanças de comportamento do emprego da energia elétrica no aspecto global do desenvolvimento sustentado. Não se trata, no entanto, de uma questão nova. Há anos, as autoridades do setor, engenheiros, técnicos e especialistas relacionados com os sistemas energéticos têm sido chamados a conservar energia e reduzir desperdício, nos mais variados níveis de produção e consumo.
A demanda mundial de energia vem crescendo exponencialmente. Em parte, porque as populações e suas necessidades também estão crescendo. Acentuam-se os sinais de que o Planeta Terra não está mais suportando o crescimento populacional nem o aumento da atividade econômica. A maioria das empresas brasileiras não faz acompanhamento sistemático do consumo energético, porque isso é considerado irrelevante.
No tocante à iluminação pública, vários estudos demonstram que ela é excessiva entre nós, sendo responsável por mais de 5% de toda a eletricidade consumida no Brasil. Lâmpadas mais eficientes do que as tradicionais incandescentes já deveriam ser utilizadas. Os reflexos sobre o atendimento da demanda elétrica e o racionamento da energia acentuaram-se, com preocupações, quando a oferta cresceu 40% menos do que o previsto, em 2013.
Em decorrência, novo racionamento, à semelhança do havido em 2001, bate às nossas portas e terá sérias repercussões, às vésperas de uma eleição presidencial e da Copa do Mundo e com crescimento do PIB desacelerado para 1,3% em 2013, ante 4,2% em 2000.
Os problemas são ignorados pelo governo, quando já deveríamos efetuar a exegese das falhas e saneá-las, enquanto fosse possível. Com dezenas de apagões ocorrendo em todo o Brasil (em 2013, houve 45 deles), a causa é atribuída à falta de chuvas, com os reservatórios das hidrelétricas com volumes de água excessivamente baixos e iguais aos níveis de 14 anos atrás. A expectativa de intensas chuvas, a partir de março, conforme os especialistas, poderá afastar o racionamento de energia em 2014, embora o cenário atual seja muito semelhante ao de 2001, quando houve o racionamento, com períodos menos chuvosos e temperaturas elevadas, consoante o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Não bastassem tais fatores adversos, o consumo da eletricidade nos escritórios e residências cresce, neste ano, mais de 12% comparado ao mesmo mês do ano passado, em decorrência do maior uso de eletrodomésticos, aparelhos de ar condicionado e ventiladores. Daí, a importância da racionalidade aludida e substituição dos obsoletos equipamentos, lâmpadas, motores e aparelhos elétricos por sistemas mais modernos e eficientes. É evidente que a eficiência não será a panaceia para a grave questão energética brasileira. Contudo, ela libera energia para o mercado, sem os pesados investimentos em usinas, transmissão e distribuição.
A energia, gerada pelas usinas movidas à água, que era abundante e barata, passou a ser cara, comprada pelas distribuidoras a R$ 400 o megawatt/hora no mercado livre. O preço já alcançou R$ 822/ megawatt/hora. A notícia da escassez elétrica já repercute nos investimentos em toda a economia. O Brasil possui, hoje, uma das energias mais caras do mundo, devido à alta tributação também.
Para evitar a majoração das tarifas, com a oferta de energia bem aquém das necessidades das empresas e das residências, o erário continuará subsidiando a diferença de preço. A mencionada conta foi de R$ 15 bilhões no ano transcorrido, com a previsão da imprescindibilidade de mais R$ 24 bilhões nos próximos meses. A insuficiência de investimentos no setor elétrico e o regime de monopólio do Estado na geração da eletricidade e outros serviços de utilidade pública poderão levar ao colapso do suprimento e ao desabastecimento.
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