ZERO HORA - 03/03
É a crença na política, e não a descrença, que pode consertar o que está errado. Quanto antes esta seleção começar, mais acertos teremos.
Voto facultativo, voto em branco e voto nulo são recursos frequentemente mencionados por muitos brasileiros revoltados com a corrupção na política. Esses apelos voltam a aparecer na véspera de mais um processo eleitoral, especialmente em manifestações feitas pelas redes sociais. A indignação é legítima e acentua-se sempre que explode um escândalo político ou que um julgamento do Supremo, como a recente apreciação dos recursos dos mensaleiros, não corresponde à expectativa da nação. Mas é a crença na política, e não a descrença, que pode consertar o que está errado.
É humano e compreensível que pessoas revoltadas com o comportamento de seus representantes no poder resvalem para a generalização, afirmando que todos os políticos são inconfiáveis. Este conceito, porém, carrega no seu bojo uma contradição: os políticos, queiramos ou não, somos nós. Eles não vêm de outro planeta. Saem dos setores organizados da sociedade, chegam ao poder pela autorização explícita de contingentes de eleitores numerosos o suficiente para diferenciá-los dos demais postulantes da mandatos. No máximo, podemos dizer, sem cair em grande contradição, que a política corrompe.
Ainda assim, corrompe porque a sociedade tolera. Em primeiro lugar, não há corrupção sem corruptores. Então, a responsabilidade não pode ser atribuída apenas aos políticos. A pergunta que se impõe é: o que os cidadãos podem fazer para impedir a deformação da política? Numa democracia, podem muito. Cidadãos bem informados e partícipes têm poder para fiscalizar e depurar a política, colocando nos postos de comando da administração pessoas íntegras e comprometidas com o país. Se não acreditarmos que essas pessoas existem, estamos duvidando de nós mesmos.
A descrença na política pode ter esse viés positivo de aumentar a massa crítica da população, de levar a indignação para as ruas e de criar uma cultura de acompanhamento e controle da representação. Em vez de revolta contra o voto obrigatório, que é uma determinação constitucional, o mais sensato talvez seja transformá-lo na prática em voto meritório, de forma que contemple apenas candidatos sobre os quais não paire qualquer dúvida em relação à integridade, à honestidade e à vontade de efetivamente trabalhar pelo país.
Quanto antes esta seleção começar, mais acertos teremos. Evidentemente, sempre haverá enganos e traições, mas a mesma democracia que possibilita tais desvios oferece igualmente remédios para corrigi-los. O país tem jeito, sim. Basta lembrar que já não se pode mais contar nos dedos de uma mão os políticos que perderam mandatos, cargos e até a liberdade por terem traído a confiança da população.
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