O ESTADO DE S. PAULO - 15/03
A indústria automotiva nacional respondeu por nada menos que 69,1% do crescimento da produção industrial em 2013, ante uma participação de apenas 18,4% em 2008, informa o jornal Valor. A primeira vista, tal desempenho poderia ser visto como um sinal de vigor. Mas, quando se olha mais de perto, observa-se que o resultado se deve muito mais às distorções causadas pelos benefícios fiscais ao setor do que à competitividade das montadoras nacionais - que só conseguem exportar basicamente para a Argentina.
Embora tenha sido premiado com uma renúncia fiscal da ordem de R$ 12,3 bilhões nos últimos cinco anos, o setor automotivo vive basicamente à custa do oxigênio do mercado interno - que agora começa a ficar rarefeito, em razão do endividamento das famílias e do en-carecimento do crédito.
As vendas de veículos em janeiro passado cresceram apenas 0,4% ante o mesmo mês de 2013 e foram 11,7% inferiores às de dezembro. Os carros vendidos em janeiro saíram basicamente dos estoques de veículos produzidos com desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), cuja alíquota voltou a subir em 2014. Sem o estímulo ao consumo, as montadoras já preveem um ano complicado.
Esse cenário mostra que a política errática e imediatista do governo para a indústria, com a concessão de benesses a apenas alguns setores privilegiados, não estimula o desenvolvimento sustentado. O governo justifica os incentivos dizendo que o setor automotivo envolve uma enorme cadeia produtiva, com reconhecido potencial de geração de empregos. Isso é inegável - ainda que o ritmo da abertura de vagas tenha caído de 7,2% ao ano, em média, entre 2004 e 2008, para 0,2% em 2013.0 fato, porém, é que as indústrias beneficiadas passam a planejar sua produção tendo em perspectiva as condições vantajosas oferecidas pelo governo, desenvolvendo uma evidente dependência.
As montadoras registram crescimento desde 2004 e muito provavelmente poderiam sobreviver aos solavancos econômicos sem os incentivos, pois o mercado brasileiro ainda está longe da saturação. O efeito dos benefícios fiscais, nesse cenário, é o da acomodação: com faturamento garantido, mercado dominado e boa rentabilidade, a indústria automotiva não se viu estimulada a ampliar investimentos em produtividade e competitividade. O porcentual do faturamento que o setor destina à inovação é, em média, de 1,4%, ante 4,3% nos países desenvolvidos.
Desse modo, quando vão disputar o mercado externo, os carros brasileiros - caros e de qualidade modesta - têm encontrado compradores apenas na Argentina. Reportagem do Estado mostrou que o país vizinho recebeu quase 80% dos carros exportados pelo Brasil no ano passado, contra apenas 18,5% em 2003. Já o mercado americano, que absorvera 8,4% dos veículos brasileiros vendidos ao exterior em 2003, não comprou nenhuma unidade em 2013.
Um bom exemplo desse fiasco é o da Toyota, que pretendia transformar sua fábrica em Indaiatuba (SP) em um polo exportador para a América do Sul. A montadora vendia seu modelo Corolla para 19 países, num volume que representava 26% de sua produção. Hoje, a exportação se limita a 16% dos carros produzidos, e o destino é apenas a Argentina. O presidente da Toyota para a América Latina, Steve St. Angelo, disse que lhe "corta o coração" ver carros da montadora vendidos na América do Sul vindos "da fábrica do Mississippi (Estados Unidos), e não do Brasil".
Assim, as exportações do setor automotivo estão à mercê dos humores da Argentina, um país em persistente crise, que não se cansa de impor barreiras a produtos brasileiros. Agora mesmo, os argentinos pretendem cortar US$ 1 bilhão em encomendas de veículos leves brasileiros. Em resposta a isso, o governo planeja criar uma linha de financiamento para a exportação de carros ao vizinho.
De novo, isso é apenas uma forma de atenuar a crise - que só será atacada de fato quando o Brasil adotar uma política industrial de longo prazo, sem improvisos, que dê a seu setor produtivo condições reais de disputar os melhores mercados.
Embora tenha sido premiado com uma renúncia fiscal da ordem de R$ 12,3 bilhões nos últimos cinco anos, o setor automotivo vive basicamente à custa do oxigênio do mercado interno - que agora começa a ficar rarefeito, em razão do endividamento das famílias e do en-carecimento do crédito.
As vendas de veículos em janeiro passado cresceram apenas 0,4% ante o mesmo mês de 2013 e foram 11,7% inferiores às de dezembro. Os carros vendidos em janeiro saíram basicamente dos estoques de veículos produzidos com desconto do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), cuja alíquota voltou a subir em 2014. Sem o estímulo ao consumo, as montadoras já preveem um ano complicado.
Esse cenário mostra que a política errática e imediatista do governo para a indústria, com a concessão de benesses a apenas alguns setores privilegiados, não estimula o desenvolvimento sustentado. O governo justifica os incentivos dizendo que o setor automotivo envolve uma enorme cadeia produtiva, com reconhecido potencial de geração de empregos. Isso é inegável - ainda que o ritmo da abertura de vagas tenha caído de 7,2% ao ano, em média, entre 2004 e 2008, para 0,2% em 2013.0 fato, porém, é que as indústrias beneficiadas passam a planejar sua produção tendo em perspectiva as condições vantajosas oferecidas pelo governo, desenvolvendo uma evidente dependência.
As montadoras registram crescimento desde 2004 e muito provavelmente poderiam sobreviver aos solavancos econômicos sem os incentivos, pois o mercado brasileiro ainda está longe da saturação. O efeito dos benefícios fiscais, nesse cenário, é o da acomodação: com faturamento garantido, mercado dominado e boa rentabilidade, a indústria automotiva não se viu estimulada a ampliar investimentos em produtividade e competitividade. O porcentual do faturamento que o setor destina à inovação é, em média, de 1,4%, ante 4,3% nos países desenvolvidos.
Desse modo, quando vão disputar o mercado externo, os carros brasileiros - caros e de qualidade modesta - têm encontrado compradores apenas na Argentina. Reportagem do Estado mostrou que o país vizinho recebeu quase 80% dos carros exportados pelo Brasil no ano passado, contra apenas 18,5% em 2003. Já o mercado americano, que absorvera 8,4% dos veículos brasileiros vendidos ao exterior em 2003, não comprou nenhuma unidade em 2013.
Um bom exemplo desse fiasco é o da Toyota, que pretendia transformar sua fábrica em Indaiatuba (SP) em um polo exportador para a América do Sul. A montadora vendia seu modelo Corolla para 19 países, num volume que representava 26% de sua produção. Hoje, a exportação se limita a 16% dos carros produzidos, e o destino é apenas a Argentina. O presidente da Toyota para a América Latina, Steve St. Angelo, disse que lhe "corta o coração" ver carros da montadora vendidos na América do Sul vindos "da fábrica do Mississippi (Estados Unidos), e não do Brasil".
Assim, as exportações do setor automotivo estão à mercê dos humores da Argentina, um país em persistente crise, que não se cansa de impor barreiras a produtos brasileiros. Agora mesmo, os argentinos pretendem cortar US$ 1 bilhão em encomendas de veículos leves brasileiros. Em resposta a isso, o governo planeja criar uma linha de financiamento para a exportação de carros ao vizinho.
De novo, isso é apenas uma forma de atenuar a crise - que só será atacada de fato quando o Brasil adotar uma política industrial de longo prazo, sem improvisos, que dê a seu setor produtivo condições reais de disputar os melhores mercados.
Um comentário:
Após a leitura do artigo, conclue-se que o autor foi condescendente, poderia citar a frase famosa de James Carville: "É A ECONOMIA, ESTÚPIDO!"
BRAZIL, PAÍS RICO...DE COMPLACENTES!!!
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