O GLOBO - 11/02
A morte de Santiago Andrade precisa levar todos a uma reflexão sobre os rumos que a atual mobilização de rua toma. Grupos radicais têm uma atuação fascista
A morte do cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade, atingido por um rojão no protesto de sexta-feira, no Rio, contra o aumento da tarifa de ônibus, precisa ser entendida em toda a sua grave dimensão.
Poderia ter sido uma pessoa que passasse naquele momento, um policial, um manifestante, que o fato, além do aspecto humano da tragédia, mancharia o movimento de mobilização nas ruas iniciado em junho do ano passado.
Mais até do que isso. É preciso entender por que, na democracia, alguém é morto durante uma manifestação, algo que não ocorria, desta forma, desde março de 1968, na ditadura militar, quando o estudante Edson Luís foi fulminado por um PM, também no Rio.
A tragédia começou a ser construída pelo desvirtuamento das manifestações de junho de 2013, convocadas à margem de partidos e organizações ditas sociais, a partir da internet, para externar o cansaço com a precariedade da infraestrutura de transporte, as deficiências na saúde pública e na educação.
A utilização das convocações por grupos radicais, anarquistas, black-blocs, o que seja, a fim de realizar atos de vandalismo contra o patrimônio público e privado, levou para as ruas uma violência em nível poucas vezes visto. O uso de paus, pedras, porretes, fogos de artifício, rojões antecipava o que ocorreria com Santiago Andrade. Em nota, a presidente Dilma frisou, com acerto: “A liberdade de manifestação é um princípio fundamental da democracia e jamais pode ser usada para matar, ferir, agredir e ameaçar vidas humanas, nem depredar o patrimônio público ou privado”.
A vítima ser da imprensa profissional não é um acaso. Pois cabe a ela, em qualquer país, estar presente em todas as situações que devam ser reportadas para a sociedade. Mesmo em ambientes hostis — guerras, grandes desastres naturais, etc. A possibilidade de repórteres serem atingidos por artefatos da polícia ou de manifestantes é sempre grande. Em São Paulo já houve profissionais feridos.
Nessas manifestações, desde a infiltração daqueles grupos radicais, repórteres da imprensa profissional passaram a ser hostilizados e ameaçados — uma excrescência na democracia.
A morte de Santiago Andrade precisa levar todos a uma reflexão sobre os rumos que a atual mobilização de rua toma. Deve-se entender que atacar repórteres, de qualquer veículo de imprensa, mídia dita ninja, etc. é cercear o direito de a sociedade se informar. Trata-se de uma atitude autoritária, a ser repelida pelos verdadeiros democratas.
Partidos políticos e organizações profissionais que por ventura atuem na retaguarda destes grupos têm oportunidade de afinal entender o sentido da sua ajuda. Aliam-se, na verdade, ao fascismo.
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