FOLHA DE SP - 06/02
Falta de chuvas deixa Grande São Paulo sob risco de racionamento; Sabesp precisa fazer sua parte e combater desperdício no sistema
Mais uma vez a Grande São Paulo está sob ameaça de racionamento de água. Dados os índices recordes de calor e de falta de chuvas, a notícia, embora incômoda, não chega a constituir surpresa.
O volume de água no sistema Cantareira, responsável por abastecer cerca de 9 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo, correspondia ontem a 20,9% de sua capacidade.
O nível está entre os mais baixos registrados nos últimos tempos. Para fins de comparação, nessa mesma época do ano passado, o reservatório operava com 52,6% de seu total. Em 2012, eram 76,1%.
São notórias as razões para isso. Os paulistanos conheceram, em janeiro, a maior média de temperaturas máximas (31,9°C) desde que a série começou a ser feita, em 1943. O sistema Cantareira, é claro, também se ressente da estiagem. O índice pluviométrico do mesmo janeiro, 87,8 mm, equivale a um terço da média histórica do mês.
Diante desse cenário, a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) decidiu lançar uma campanha para estimular a economia de água.
Quem diminuir o consumo médio mensal em pelo menos 20% na comparação com os últimos 12 meses terá 30% de desconto na conta. O plano se aplica a moradores da Grande São Paulo abastecidos pelo Cantareira.
A iniciativa, voltada para os usuários, é uma reação imediata aos caprichos da natureza. Mudanças de hábitos da população podem, sem dúvida, preservar preciosos recursos hídricos e, talvez, evitar o racionamento.
A Sabesp, no entanto, precisa fazer a sua parte. Mas, ao menos no que diz respeito a combater o desperdício, a companhia ainda deixa a desejar. Um quarto da água captada na Grande São Paulo se perde no percurso entre a represa e os domicílios da região.
Estima-se que a maior parte desse prejuízo seja devida a vazamentos na rede; o restante seria fruto de desvios ilegais --para os quais a fiscalização, de todo modo, tem se mostrado ineficiente.
Verdade que a Sabesp tem melhorado. Em 2006, o desperdício era de 33%, e os atuais 24,7% estão abaixo da média nacional (40,7%). No Brasil, contudo, sete Estados mostram-se mais esmerados que São Paulo --Paraná é o que se sai melhor, com 21,1%, ainda longe de Alemanha (11%) ou EUA (16%).
O órgão paulista, portanto, precisa avançar ainda mais --no mínimo, porque dinheiro do contribuinte escorre pelo mesmo ralo da água extraviada.
Além disso, qualquer economia de recursos hídricos poderá fazer a diferença nos próximos anos. Se se confirmarem as previsões dos pesquisadores do aquecimento global, fenômenos climáticos extremos, como secas e ondas de calor, serão cada vez mais frequentes.
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