FOLHA DE SP - 14/01
SÃO PAULO - No filme "As aventuras de Pi", um sucesso no ano passado, um garoto é forçado a dividir um bote com um tigre-de-bengala para se salvar de um naufrágio. Foram 227 dias à deriva, iniciados com medo e desconfiança de parte a parte. Ao longo da jornada, os dois conseguiram estabelecer uma trégua, que os salvou. O Fórum Econômico Mundial, na próxima semana em Davos, na Suíça, é o bote da presidente Dilma e dos tigres do mercado.
Dilma não está indo pela primeira vez a Davos por ter sido capturada pelas forças do mercado. É uma tentativa de acalmar as feras. Lá estarão os empresários e investidores mais ricos do mundo. A maioria tem um pé atrás em relação a ela.
Descrevem seu governo como um repelente contra investidores: intervencionista, estatizante e fraco em matéria econômica. Alguns começam a dizer que ela vai radicalizar esse modelo, caso vença a eleição. E o sentimento negativo pode ficar ainda pior se o país vier a ser rebaixado pelas agências de risco.
Dilma e sua equipe agora reconhecem que sem a confiança do setor privado não há política econômica que dê certo. Já subiram os juros para combater a inflação, ajeitaram as regras de concessões do jeito que o mercado queria, mas nada surtiu efeito. Por isso, apostam alto em Davos para quebrar a tensão. Acham que a força da estratégia não está na mensagem, mas na mensageira.
A primeira vez da presidente em Davos seria um sinal de atenção para com o mercado. Ela vai falar de seu compromisso com o combate à inflação, o equilíbrio das contas públicas e com a continuidade das concessões. Tudo isso já foi dito várias vezes pelos ministros e não adiantou.
O que pode fazer a diferença, espera Dilma, é que ela tem as concessões de estradas e aeroportos do fim do ano passado para apresentar. Mais do que isso: o recado desta vez será dado pela própria presidente --que tem enormes chances de continuar no cargo por outros quatro anos.
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