O ESTADÃO - 08/12
A indagação é recorrente: o desempenho do Brasil na Copa do Mundo pode influenciar o resultado das eleições? Tendo em vista os últimos cinco pleitos, a resposta é negativa. Mas a pergunta continua a ser feita porque, desde 1994, o Mundial coincide com o ano eleitoral e muitas análises insistem em conectar um fato ao outro.
A realidade, porém, não autoriza o vínculo. Com uma única exceção, candidatos oficiais ganharam a eleição em anos em que o Brasil foi eliminado e perderam três meses depois de o país ser campeão. Só em 1994 o presidente elegeu o sucessor três meses depois da vitória na Copa nos Estados Unidos. Ganhou Fernando Henrique Cardoso, candidato do então presidente Itamar Franco. Ainda assim, o resultado se deveu ao Plano Real, e não ao futebol.
Indo adiante, chegamos a 1998, quando Fernando Henrique ganhou a reeleição e o Brasil deu aquele famoso vexame na França. Quatro anos depois, na Ásia (Japão e Coreia) saímos vencedores; o governo, no entanto, viu seu candidato ser derrotado pelo PT, há anos na oposição.
Em 2006, perdemos a Copa na Alemanha em junho. Em outubro, o então presidente Luiz Inácio da Silva foi reeleito. Isso em pleno escândalo do mensalão. A escrita se repetiu em 2010: o Brasil não conquistou o campeonato na África do Sul e a candidata de Lula, Dilma Rousseff, ganhou a eleição.
Ou seja, estatisticamente comprovado que uma coisa não tem nada a ver com a outra. O entusiasmo ou a decepção com o desempenho no futebol não se transfere para a escolha eleitoral. Assim tem sido, mas assim pode não ser em 2014. A Copa é no Brasil, que terá muitas responsabilidades além de buscar a vitória na final. Vai precisar ganhar o jogo também fora do campo.
Se correr tudo bem, a infraestrutura funcionar e for um sucesso de crítica e bilheteria, evidentemente os méritos serão creditados ao governo. Com justiça. Mas, se não for tudo nos conformes, se a Copa transcorrer na base dos “disformes”, a conta será cobrada no guichê do Palácio do Planalto.
O presidente da Fifa, Joseph Blatter, diante dos atrasos em obras e do acidente ocorrido no Itaquerão previsto para ser inaugurado em abril, quatro meses depois da data combinada, entregou literalmente aos céus: “Não temos plano B. O que a Fifa pode fazer é pedir a Deus, a Alá, a quem quer que seja para que não haja mais acidentes envolvendo a Copa do Mundo”.
O ministro do Esporte, Aldo Rebelo, fez metáfora: “As noivas chegam atrasadas e nunca vi um casamento não acontecer por causa disso”. É fato, mas não assegura o sucesso do matrimônio. Integrante do Comitê Organizador Local, o ex-jogador Ronaldo embarcou na canoa do improviso: “O gringo, em geral, não conhece o nosso jeitinho brasileiro de ser e fazer as coisas no último momento e começar uma correria, mas a gente tem garantia de que todos os estádios estarão prontos para a Copa”.
Fossem apenas os estádios até que estaria tudo bem, serão entregues, não há dúvida. Mas, e o resto? Os aeroportos, os transportes públicos, os táxis, a hospedagem, a dita mobilidade urbana, as estradas, os serviços, as comunicações, a segurança? Isso sem falar nos superfaturamentos em obras e no questionamento sobre o “legado” do qual está prometido que o país poderá se valer. É preciso bem mais que “jeitinho brasileiro” para, senão resolver, ao menos equacionar essas questões a fim de não pôr a perder a oportunidade.
A “correria” citada por Ronaldo não é peculiaridade cultural a ser celebrada. É sinal de descaso e incompetência. Afinal de contas, desde o anúncio de que o Brasil seria sede do Mundial até hoje lá se vão cinco anos. É o tipo do atraso que pode estragar a cerimônia de um casamento.
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