O GLOBO - 08/12
Há sólidos indícios de que o comissariado petista arma iniciativas para criar uma base de apoio no setor de comunicações. Em 12 anos de poder, o projeto mais lógico rolou no BNDES em 2002. Como havia grandes empresas em dificuldades financeiras, concebeu-se algo como um ProPress. O comissário José Dirceu chegou a anunciar que “esse era um assunto de Estado”. Deu em nada porque, depois de examinar os contratos, alguns dos interessados recusaram a oferta. É elementar que um tomador de empréstimo só recusa as condições se pretende cumpri-las (leia-se pagar). Quem não quer pagar assina qualquer coisa.
O governo já criou uma rede de televisão, distribuiu os habituais feudos de radiodifusão e alguns comissários meteram-se em jornais. Como faltou combinar com os russos, ficaram sem audiência e com poucos leitores.
Seja qual for o governo, sempre haverá no palácio gente convicta de que os meios de comunicação lhes são hostis e sempre haverá um amigo disposto a resolver o problema criando um jornal, uma nova rede de rádios ou de televisão. Basta que receba alguma ajuda.
Em quase um século, todas essas iniciativas terminaram em ruínas, escândalos e, em pelo menos um caso, assassinato. Exceção, só a da “Última Hora”, criada por Samuel Wainer em 1951 para defender Getulio Vargas. Samuel, que foi um grande jornalista, conseguiu centenas de milhares de leitores. Paradigma do fracasso foi a compra do “Correio da Manhã”, em 1969, por empreiteiros amigos. Fechou anos depois.
Quando operações desse tipo passarem pela doutora Dilma, ela não deve se esquecer do nome do jornalista Alexandre Baumgarten. Suas vidas já cruzaram. Ele tinha mais amigos entre os generais da ditadura do que ela no PT. Em 1974 a revista “O Cruzeiro” estava falida, e Baumgarten armou um projeto para salvá-la com dinheiro oficial e a ajuda do Serviço Nacional de Informações para pressionar as agências de publicidade. O assunto chegou ao general Golbery do Couto e Silva, que chefiava o Gabinete Civil, com a advertência de que “já deu bolo”. Ele escreveu: “Tinha que dar. Ora, o BNDES emprestar aos Diários Associados!!!”
Oito anos depois Baumgarten foi assassinado com um tiro na cabeça durante um passeio de barco. Há a forte suspeita de que a execução tenha sido organizada por um oficial que anos antes patrocinava as andanças de Baumgarten. Em dezembro de 1969 esse mesmo oficial caçava a turma da VAR-Palmares e sabia que a “Wanda” era Dilma Rousseff. Ela foi presa semanas depois.
Os paladinos dos planos que darão nova vida ao governo na imprensa podem até parecer bons amigos. O problema é o que há em volta deles.
Doutora Dilma e a verdade
A doutora Dilma disse numa entrevista à edição em português do jornal “El País” que “esta semana resolveram reavaliar o PIB (Produto Interno Bruto). E o PIB do ano passado, que era 0,9%, passou para 1,5%.” Não disse quem “resolveram”. Há um mês, diante da notícia de que o governo pretendia inaugurar 8.685 creches, rebateu a informação e perguntou: “Quem foi que aumentou para oito mil?” Ela, no seu programa radiofônico.
Quando o IBGE informou que a revisão elevara o PIB de 2012 para 1%, a lambança deslizou para o ministro Guido Mantega, e, dele, para sua Secretaria de Política Econômica, chegando a uma simples consultoria privada.
Quando verificou-se que não existia o título de doutora que lhe era atribuído na biografia oficial da Presidência, a responsabilidade rolou para um anônimo burocrata.
No Palácio do Planalto, todo mundo acredita nisso. Só no palácio.
O preso Dirceu
O comissário José Dirceu pediu para trabalhar num hotel, furando a fila dos demais detentos que estão trancados e ainda não conseguiram serviço fora da Papuda. O juiz de Execuções Criminais negou a solicitação, e ele desistiu do emprego.
Em seguida, Dirceu pediu permissão para usar computador e alimentar seu blog. Nesse caso, poderia ser criada a seguinte situação: de manhã, o preso vai para o hotel, e, ao final da tarde, volta à prisão, onde passa algumas horas conectado na rede. Teria R$ 20 mil de salário, cama na Papuda, comida e roupa lavada no hotel.
Se essa situação pudesse ficar de pé, o Brasil teria duas populações, a dos presos exercendo seus direitos e a dos condenados a ficar soltos.
Conta de barão
A Viúva gasta R$ 40 mil por ano com cada preso, e R$ 15 mil com cada estudante universitário. Essa conta não vale para o ex-deputado Valdemar Costa Neto. Ele receberá também R$ 201,6 mil anuais como parlamentar aposentado. Seu patrimônio declarado está em R$ 1,7 milhão. Fora da declaração, provavelmente ele é o mensaleiro mais endinheirado.
Costa Neto foi condenado a sete anos e dez meses de prisão e a pagar uma multa de R$ 1 milhão. Na ponta do lápis, preso, ele receberá da Viúva cerca de R$ 1,5 milhão.
Eremildo, o idiota
Eremildo é um idiota e acredita que só havia quadrilha de fiscais na prefeitura de São Paulo. Em todas as outras, não há caso de corrupção. As empresas imobiliárias estão aí para garantir que nunca pagaram propinas.
Farra fiscal
O ministro Guido Mantega deve contratar um ator para representar o papel de defensor da responsabilidade fiscal. Sua capacidade de desempenho esgotou-se. Não se pode dizer que perdeu a credibilidade. O que perdeu foi a graça.
Um exemplo:
O governo do Ceará batalhou um empréstimo de até US$ 100 milhões do Bird, com garantia da União e, em 2012, o Senado autorizou-o. A Secretaria do Tesouro Nacional considerou que as contas do Ceará estavam capengas com um déficit na sua capacidade de pagar o que deve.
Se isso fosse pouco, o estado tem 40% de sua dívida atrelada ao dólar. Num piripaque cambial, dana-se.
O governador Cid Gomes foi a Mantega e obteve dele uma autorização especial para que a União garantisse o empréstimo.
Quando chegar a hora de pagar ao Bird, o Ceará terá outro governador, e a Fazenda, outro ministro.
Falando demais
O advogado Valmar Souza Paes é um veterano profissional bem- sucedido no Rio de Janeiro e deu ao filho, o prefeito Eduardo Paes, uma educação da melhor qualidade. A sorte pode ter lhe faltado quando comprou o registro de empresa criada em nome de um pobre panamenho, que fora associado a outra, para um acionista do Hotel Saint Peter, atual patrono do comissário José Dirceu.
Mesmo assim, ele gosta de desafiá-la. Durante as manifestações de junho, um passageiro do elevador do edifício onde funciona seu escritório jura tê-lo ouvido dizer que situações como aquelas não aconteciam quando os militares estavam no poder.
Quando os militares estavam no poder, o prefeito do Rio era nomeado.
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