ZERO HORA - 05/11
Caetano Veloso, no tempo em que ainda era um libertário e não pagava esse mico mundial de defender censura prévia, fez a piada precisa, ao observar com uma saudável irreverência terceiromundista: “Se você tem uma ideia incrível / é melhor fazer uma canção; / está provado que só é possível / filosofar em alemão”. Isso foi ainda no tempo da Guerra Fria, ano da graça de 1984, quase 30 anos faz.
De fato, fazer canção que saiba conter e expressar temas complexos, cheios de matizes, é coisa que a cultura brasileira soube e sabe fazer bem, no melhor nível imaginável para as limitações do formato canção. (Canção é aquela combinação de melodia e letra, inseparáveis, que dura mais ou menos três minutos e a gente aprende fácil.)
Nisso, como em outras formas artísticas breves (crônica, conto, caricatura, foto, piada etc.), o Brasil se dá bem. Já para o pensamento filosófico sistemático, que requer textos extensos, com períodos que levam até mais de página para se firmarem e redes conceituais finas, o Brasil não é parâmetro para nada. Melhor procurar em alemão.
E em alemão tem, agora, um livro-guia de grande qualidade. A editora Cosac Naify lançou dois volumes com o título Pensamento Alemão no Século XX, com organização de Almeida e Wolfgang Bader, em edição caprichada, que dá gosto.
O leitor acha estreito o marco temporal, século 20? Então me diz se não vale a pena conhecer, em artigos monográficos escritos por especialistas, em sínteses panorâmicas, pensadores como Weber, Freud, Heidegger, Hannah Arendt, Adorno, Marcuse (no primeiro volume) ou Reich, Jung, Lukács, Popper, até mesmo Einstein (no segundo). Eu gostei demais do ensaio sobre Erich Auerbach, um de meus modelos de comentaristas de literatura, escrito pelo especialista em sua obra que é Leopoldo Waizbort.
Nada mau entrar nessa conversa, ainda mais para aproveitar que em 2013 é a Alemanha o país homenageado na nossa Feira do Livro de Porto Alegre.
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