O GLOBO - 21/11
Chile, México, Peru e Colômbia estão reduzindo suas taxas de juros para turbinar o crescimento. Já no Brasil...
Há uma maneira fácil de ser campeão em tudo: escolher bem os adversários, um para cada tipo de jogo. Taxa de desemprego, por exemplo. A do Brasil é de 5,4%, contra o desastre de 27,6% na Grécia. Fácil.
Querem competir em inflação? Pois o principal índice brasileiro, o IPCA, mostra alta de preços de 5,8% nos últimos 12 meses. Vamos deixar de lado a Venezuela, cuja inflação passa dos 50%. Seria covardia pegar um país tão desorganizado. Mas considerem a Índia, que não está numa fase muito boa, mas trata-se de um Bric grande: preços subindo ao ritmo anual de 10%. E, aliás, com taxa de desemprego também na casa dos 10%, de modo que o Brasil ganha nos dois quesitos.
O que mais? Crescimento da economia? O Brasil não está lá essas coisas, mas pode salvar uma expansão do PIB de 2,5% neste ano. A Grécia, para voltar ao saco de pancadas, está andando para trás. Seu produto vai encolher espantosos 4%. Querem outro, grandão? A Alemanha deve crescer neste ano magérrimos 0,5%. Os EUA talvez consigam uns 2%.
Poderíamos seguir indefinidamente com essa história. Mas não vale a pena. Esses números, assim jogados, não contam a verdadeira história dos jogos. Mesmo porque pode-se fazer a comparação contrária.
Taxa de desemprego, por exemplo, uma bandeira sempre desfraldada pela presidente Dilma. E, não, a taxa brasileira não é a menor do mundo, nem dos emergentes nem da América Latina.
Japão e China, com 4%, oferecem proporcionalmente mais empregos a seus cidadãos. Na Coreia do Sul, a taxa de desemprego é ainda menor, 2,8%. No México, 4,9%.
Em boa parte dos países, o desemprego está em queda em consequência da recuperação, ainda que moderada, da economia global. Nos EUA, por exemplo, essa taxa, que encostou nos 10% na sequência da crise financeira, já caiu para 7,3% e a tendência é de baixa.
Portanto, não é exato dizer que o Brasil gera empregos num mundo que destrói vagas — como sugeriu a presidente Dilma várias vezes nesta semana.
No quesito inflação, é até fácil encontrar adversários com taxa menor que a brasileira. Querem países grandes e ricos? Pois então: EUA, com inflação anual de 1,2%, mesmo número da Alemanha. O Japão vai de 1%. Comparar com emergentes? Pois a China mantém preços subindo, também em ritmo anual, na faixa de 2,5%. Entre os países importantes da América Latina, tirante Argentina e Venezuela, todos registram inflação menor — e bem menor que a brasileira. Tanto é verdade que esses países, como Chile, México, Peru e Colômbia, estão reduzindo suas taxas de juros para turbinar o crescimento. Já no Brasil, mesmo precisando acelerar a economia, os juros estão subindo porque o governo relaxou no controle da inflação.
E, por falar em crescimento, aqueles latino-americanos, exceto o México, vão mais rápido que o Brasil. Chile e Colômbia crescem pouco mais de 4% ao ano, Peru vai a 5%. Fora da região, a Coreia do Sul tem expansão em torno de 3% — bem melhor que os 2,5% brasileiros, pois se trata de um país com renda mais alta.
E a China, convém nem considerar.
A presidente Dilma também sugeriu que o Brasil é campeão em superávit primário, alto, e dívida pública, baixa. Aqui, é até mais fácil confundir do que explicar, dada a complexidade e a variedade das contas.
Mas, considerando a Dívida Líquida do Setor Público, em proporção ao PIB, o Brasil defende hoje uns honrosos 36%. Para quem já esteve acima dos 60%, está muito bom.
Mas aqui pertinho, na América Latina, o México ganha apertado nesse quesito, com 34%. Mas o Chile dá de lavada. Tem superávit. Peru e Colômbia usam mais outro indicador, a Dívida Pública Bruta, com confortáveis 30% para a colombiana e baixíssimos 16% para a peruana. Nesse quesito, o Brasil tem dívida de 60% pelo critério do governo, 67% pelas contas do FMI.
Também poderíamos seguir indefinidamente por estas comparações. E vou dizer: é mais fácil achar países que estão em situação melhor. Especialmente quando, em vez de fazer campeonatos parciais e arranjados, considera-se o conjunto da obra. Como têm apontado economistas brasileiros das mais variadas tendências, inclusive pró-governo Dilma, o Brasil foi apanhado numa armadilha de baixo crescimento com inflação elevada e contas públicas desarrumadas.
E por falar em inflação: quem for à página do Banco Central (bcb.gov.br) verá que a meta de inflação no Brasil é de 4,5%. E verá que, para contornar situações excepcionais, admite-se uma banda de variação de dois pontos. Ou seja, 6,5% não é a meta, mas o teto da banda de variação. E mesmo os 4,5% formam uma inflação elevada para os padrões globais.
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