O Estado de S.Paulo - 21/11
Bastaram dois dias em dependências da Polícia Federal enquanto milhares de presos cumprem pena em regime fechado por falta de vagas no semiaberto (sem direito a visitas fora dos dias estabelecidos), para que as prisões de José Dirceu, José Genoino e companhia se transformassem em ícone da mais insidiosa agressão aos direitos humanos.
Petistas juntaram-se em ataques ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, que estaria, por essa ótica, imbuído de má-fé, investido na condição de déspota e exclusivamente pautado pelo desejo de subir ao panteão dos heróis nacionais no ato de execução das penas.
De repente é isso mesmo, mas a reação foi desproporcional, como se explodisse uma panela de pressão. Calados desde que o partido percebeu que não seria uma boa estratégia ir contra a corrente do sucesso popular de Barbosa, realizado o prejuízo, os petistas soltaram a fúria represada.
Alguns o fizeram em estado de delírio, comparando "togas da ditadura" a "togas que criminalizam dirigentes do PT que não cometeram crime algum". Como não? Então os 13 absolvidos, entre os 40 réus da denúncia original, não são inocentes, são protegidos do STF?
A ofensiva, corroborada por parlamentares e dirigentes do PT, poderia ser vista como uma agressão institucional ao Supremo. Mas, vejamos o cenário por uma perspectiva menos grave, a eleitoral.
Pelo tom, exacerbado e sem efeito prático porque o que está feito está feito, dá a impressão de que o PT está mais preocupado com a possibilidade de Joaquim Barbosa entrar na política - sejamos claros, decidir se candidatar a presidente, governador ou senador - do que propriamente com o encaminhamento dos trâmites para a execução das penas dos companheiros.
Este processo está concluído, os condenados têm bons advogados e notoriedade suficientes para que não sejam vítimas de rigores abusivos. Pelo menos não sem que haja repercussão pública.
Já a eleição, esta vem por aí. Do ponto de vista do magistrado, seria quase uma insanidade Barbosa entrar. Daria razão às críticas de que atua com propósitos outros.
Mas, como nunca se sabe, o PT está com jeito de quem acha melhor prevenir que depois remediar.
Não dito. A decisão do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, de abrir processo de cassação contra o deputado José Genoino, não contraria apenas a ordem do Supremo sobre a extinção automática dos mandatos dos condenados no mensalão.
Contraria a palavra dele mesmo. Depois da absolvição de Natan Donadon, Henrique Alves disse que não levaria cassações a exame enquanto não fosse votado o fim do voto fosse secreto.
Uma de duas: ou ele se arrependeu de ter confiado na disposição da Casa em quebrar o sigilo para o caso de cassações ou está confiante demais na possibilidade de os deputados instituírem o voto aberto entre a abertura e a chegada do processo ao plenário.
Vitrine. A última pesquisa Ibope registra redução significativa nos índices de intenção de votos de Marina Silva e Eduardo Campos em relação aos registrados logo após o anúncio da aliança entre os dois.
Nada aconteceu de lá para cá que justifique a queda. A não ser a diluição do impacto da surpreendente decisão da ex-senadora de se filiar ao PSB.
Evidência de que no momento as pesquisas têm mais relação com a exposição dos pré-concorrentes e da capacidade deles de gerar fatos políticos do que propriamente com decisão de voto baseada no exame de forma de conteúdo de cada um.
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