quinta-feira, novembro 21, 2013

Carisma e poder - SÍLVIO RIBAS

CORREIO BRAZILIENSE - 21/11
Os presidentes JK, do Brasil, e J(F)K, dos Estados Unidos, tinham em comum algo bem mais intrigante e transcendente que duas letras nas iniciais, usadas como grife pessoal. Eles eram, sem sombra de dúvida, líderes carismáticos, populares e símbolos da transformação modernizadora dos seus países. O fascínio que exerciam e exercem até hoje sobre as massas, além da facilidade com que lidavam com os meios de comunicação, são invejados pelos políticos que os sucederam ao longo dos últimos 50 anos.
Emblemas eternos e heróis inesquecíveis, Nonô e Jack, apelidos de família, conferiram ao poder exercido na democracia uma aura mágica, que muitos tentam reproduzir em favor de propósitos discutíveis e nada nobres. Sem dissecar as contradições dos dois personagens históricos e focar apenas no carisma deles, lamento que o pragmatismo na política mundo afora tenha conspirado contra o encantamento das novas ideias. Em seu lugar, o marketing eleitoral e os conchavos da pior espécie trataram de tirar o papel mobilizador de discursos e a aspiração revolucionária de programas de governo.

Mesmo amados pela maioria dos cidadãos, chefes de Estado como o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e o norte-americano Barack Obama desidratam suas belas biografias ao colocar a permanência no poder acima do que faziam os outros crer como sendo missão e credo. A Justiça no sentido mais amplo requer gestos mais firmes do que palavras bonitas.

A facilidade com que se nega o ideário do passado e se erguem escaramuças para atravessar as barreiras levantadas pelas próprias incongruências faz do ícone um simples mortal, que não inspira mais nada nem ninguém. O operário e o negro na presidência trouxeram às gestões avanços no campo social e ético. Mas ambos os mitos falharam ao desrespeitar o maior trunfo que tinham: o de levar a nação a acreditar ser possível virar a página de episódios lamentáveis, como os da corrupção e da politicagem tacanha, no nosso caso, e os da invasão de privacidade e do militarismo, no caso deles. Aplausos para John Kennedy e Juscelino Kubitschek.

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