FOLHA DE SP - 25/11
SÃO PAULO - Não é trivial governar uma sociedade populosa cuja renda provenha sobretudo da exploração de um só produto. O bem-estar das pessoas condiciona-se a quanto as outras nações pagam pela mercadoria ali abundante. Fica sujeito a variações colossais e repentinas.
A face política da economia circunscrita a uma atividade costuma ser governo forte e centralizador. De sua atuação depende decisivamente a distribuição da renda, originada de modo concentrado.
A regra vale menos para países pouco habitados, na comparação com sua riqueza territorial. Mas duplique, leitor, a população do organizado Chile, menor que a da Grande São Paulo, troque o cobre pelo petróleo e terá ideia do problema da Venezuela. Dobre de novo o número de habitantes e chegará perto do desafio do Irã.
Teerã e Caracas vivem hoje a ressaca deixada pelo fim de uma década de bonança na cotação do petróleo. A renda do petróleo não compra mais a quantidade de bens e serviços suficiente para manter o progresso material da sociedade.
Os governos fazem o que podem para mitigar o empobrecimento relativo da população, o que parece inevitável. Ampliam gastos e dívida, manipulam a moeda local e saqueiam as receitas das estatais petrolíferas.
Mas podem pouco. O PIB se desacelera, e os preços ao consumidor arrancam. O custo de vida sobe 40% ao ano. No Irã, o boicote internacional agrava o desabastecimento interno. Na Venezuela, os decretos para baixar preços o vão exacerbar.
Ao Irã ainda restam a moeda de seu programa nuclear --cuja desaceleração temporária acaba de pactuar com o Ocidente-- e o enraizamento do regime islâmico. A Venezuela não tem nada disso.
O Brasil se prepare para uma crise no vizinho. O socialismo começa com discursos gloriosos e braços erguidos, mas acaba em filas e penúria econômica.
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