FOLHA DE SP - 08/10
Marinismo e campismo querem enterrar o velho na política, mas ainda dançam a mesma ciranda
EDUARDO CAMPOS e seu partido, PSB, estiveram no governo de Dilma (PT) até setembro. Marina Silva foi ministra de Lula entre 2003 e 2008 e foi PT até 2009. Ok, saiu faz quatro anos, o período entre duas Copas do Mundo e duas eleições, mas foi petista desde meados dos anos 80, embora do "velho PT", decerto.
No dueto do final de semana, Marina e Campos cantavam a modinha do "novo" na política. Querem "enterrar a velha política do Brasil" (Campos), "o Brasil que está aí com esse atraso na política que pode fazer a gente perder as conquistas que a duras penas ganhamos..." (Marina), pois "ninguém vai melhorar esse país se não melhorar a política que está lá fora".
Pois então. Além de estar no governo Dilma até o mês passado, Campos embarcou no seu Partido Socialista Brasileiro uns notórios oligarcas do DEM, ex-PFL. No final de agosto, Campos e o senador Aécio Neves (PSDB) confraternizavam amorosamente em jantares nos quais pareciam ter acertado uma política de boa vizinhança para a eleição de 2014. PSB e PSDB estarão (estariam?) juntos no mesmo palanque em alguns Estados.
Enfim, "business as usual", política normal e o melhor do Carnaval, ainda que a banalidade dessas conversas causasse o torpor do enfado.
Marina aderiu sem querer querendo ao PSB a fim de sair de uma sinuca de bico eleitoral-cartorial, "golpe de mestre", "jogada de alto gabarito político", segundo aficcionados da política politiqueira, mas também "business as usual". No entanto sabe-se lá que bicho vai dar, se tempestades e ímpetos amazônicos de Marina vão permitir a coabitação com o campismo e, enfim, se o eleitor vai gostar disso, eleitor que em geral não dá a mínima para eleições até a véspera, quando dá.
Pois então. Marina, que passou a amar Campos, que amava o governo Dilma, mas namorava Aécio, foi para o PSB de Campos, governista até a lua passada e também companheiro de velhos DEMistas.
Desculpe-se a banalidade da pergunta ingênua, mas quem "está lá fora", na "velha política", que o marinismo e o campismo querem "enterrar"? Não sobrou quase ninguém além do PMDB e dos partidos nanicos mensaleiros e outros ainda menos notáveis ou menos notórios.
E quanto à substância? São novos por qual ótica? O que Marina e Campos podem ter de novo ou reformista não se sabe ainda.
O marinismo e o campismo querem "preservar conquistas", mas melhorar a política econômica, defendem o "tripé" palociano-luliano-tucano (inflação controlada, metas de inflação e responsabilidade fiscal) etc. Em suma, querem dizer que repetem o arroz com feijão que ouvem de seus economistas-padrão e se pelam de medo de lhes colarem a imagem de inimigos do Bolsa Família e de Lula, que têm enorme prestígio. Dilma prestou assim um grande serviço à oposição, pois serve de anteparo, de Judas, para a malhação do governo petista sem que seja necessário bater em Lula.
Mas a fórmula genérica dos economistas não quer dizer nada. Política fiscal nos trilhos, investimento e mudança tributária implicam aumento da poupança do governo, um paradão nas políticas distributivas do petismo (não sua reversão, decerto), corte nos vários benefícios previdenciários e em conflitos com Estados, para só começar o rolo.
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