Dramático, como tudo na Argentina, o quadro é assim: a presidente não votou, continua de licença médica, e seu filho, Máximo, que nunca se pronuncia, falou que não há data para ela voltar. O retorno era previsto para o dia 9. Enquanto isso, no dia exato que completava o terceiro aniversário da morte de Nestor Kirchner, o Kirchnerismo perdeu em estados que representam 70% do eleitorado, perdeu até na pequena Santa Cruz, na Patagônia, reduto eleitoral da presidente.
O projeto de Cristina Kirchner é o mesmo que embalava Hugo Chávez: eleições sucessivas. Ela agora tentaria mudar a Constituição para ter o direito de disputar o terceiro mandato. Para isso, precisaria de dois terços nas duas Casas, o que não tem mais. Ficou com uma estreita margem: três deputados a mais, dois senadores a mais que a maioria simples. Isso contando o grupo Kirchnerista e seus aliados.
Na economia, a inflação continua em tomo de 25%, o governo já admite que ninguém acredita no índice oficial, o câmbio está controlado porque as reservas se esgotam, e o crescimento não cresce mais como nos últimos anos. Os investidores abandonam a Argentina tamanha a intervenção do governo na economia.
O secretário de Comércio, Guilhermo Moreno, que é o mais poderoso integrante do gabinete, nem apareceu no bunker onde aliados do governo esperaram o resultado. O senador Anibal Femandez, que também é forte defensor do govemo, também não apareceu. Isso fortalece a ideia de que a derrota começa a produzir dispersão nas fileiras do governismo.
A vitória de Sérgio Massa, ex-aliado da presidente, em Buenos Aires, foi acachapante. Lá, o voto é em lista, portanto, seus 42% de votos puxam uma grande bancada no colégio eleitoral que, sozinho, representa 38% do eleitorado. Por isso, Massa já começa a postular candidatura. Mas não é o único. Dentro do grupo da presidente apresenta-se Daniel Scioli, na hipótese de a presidente não ter o terceiro mandato. Outros vitoriosos, como o ex-vice-presidente Julio Cobos, que saiu do govemo brigado com a presidente e foi para a União Cívica Radical, também usaram a vitória para falar como candidato. Isso, além de Mauricio Macri, de centro-direita, governador de Buenos Aires.
Felipe Solá, um críticos ferrenho do governo, disse que o resultado mostra que "a Argentina está cansada desse estilo de governo, querendo sempre cada vez mais poder" Os empresários estão cansados do que não funciona numa economia que tem tanta chance de dar certo.
O economista Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central do Brasil, resume assim a situação:
— A Argentina não está em recessão, mas cresce pouco. Em 2012,1,9%, este ano, 2%, e no ano que vem a projeção é 1,5%. Mas isso se confiarmos nos números do instituto de pesquisas do país (que sofreu intervenção). O país continua sem reservas. O turista argentino para gastar dólares tem que se justificar, exportadores brasileiros têm dificuldade de receber não porque o importador não tenha como pagar, mas porque não recebe autorização do Banco Central, tem muita empresa fechando as portas porque o desabastecimento de insumos industriais está atrapalhando a produção. Tudo parece mostrar o fim de um ciclo na Argentina.
É um espanto que o país enfrente uma crise cambial depois de um longo período de boom de com-modities. Na definição de Loyola, a Argentina continua sendo um país com grande potencial e uma péssima gestão macroeconômica
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