O Estado de S.Paulo - 03/09
A notícia positiva sobre a economia brasileira no segundo trimestre - expansão de 1,5%, puxada pelo investimento produtivo - parece haver levado algum otimismo aos especialistas do mercado financeiro e das consultorias. Os novos números das contas nacionais foram divulgados na manhã de sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A novidade refletiu-se no mesmo dia na pesquisa Focus, conduzida pelo Banco Central (BC). Segundo a pesquisa, subiu de 2,2% para 2,32% a mediana das projeções daqueles economistas para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Foi o número mais alto desde 5 de julho, quando a sondagem captou uma estimativa de 2,34%. Oscilações para cima têm ocorrido nas previsões de desempenho econômico, mas têm sido raras, desde o ano passado. Apesar dos aumentos ocasionais, a redução tem sido a tendência dominante ao longo dos meses. Algo novo no panorama?
Há um ano, os economistas consultados na pesquisa Focus calculavam para este ano um PIB 4% maior que o de 2012, mas também a projeção para o número final do ano passado ainda estava em queda. Essa projeção estava em 1,64% um ano atrás, e era otimista, porque o balanço divulgado meses depois pelo IBGE apontaria a modestíssima variação de 0,9%. Também as previsões para 2o13 começariam logo a cair. No fim de novembro estariam reduzidas a 3,7% e no fim de dezembro a 3,1%. Nos primeiros meses deste ano o sobe e desce das projeções ficaria na faixa de 3% a 3,2%, mas logo deslizaria para níveis mais baixos.
A mudança da sexta-feira passada pode ter sido o começo de uma nova escalada, mas isso parece duvidoso, quando se examinam outros detalhes da pesquisa do mesmo dia. Por exemplo: embora o crescimento do PIB tenha sido elevado para 2,32%, o da indústria permaneceu em 2,11%, o mesmo número da semana anterior.
Essa avaliação talvez seja reconsiderada, mas na última sexta-feira havia poucos fundamentos para isso. A produção da indústria, embora 2% superior à do primeiro trimestre e 2,8% maior que a de um ano antes, continuava muito inferior à da agropecuária. Também havia indicações de um desempenho fraco em julho, quando o nível de atividade das fábricas paulistas caiu 1,6%, segundo informou no mesmo dia a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Além disso, na pesquisa Focus o crescimento estimado para o PIB em 2012 diminuiu de 2,4% para 2,3%, embora a expansão prevista para a indústria tenha passado de 2,9% para 3%. Com pequenas variações para mais ou para menos, as projeções para o PIB e para a indústria continuaram indicando uma avaliação negativa das condições básicas da economia.
Algumas dessas condições foram examinadas em nota do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). A taxa de investimento passou de 17,9% do PIB no segundo trimestre de 2012 para 18,6% um ano depois - um "aumento significativo", segundo a nota, mas "ainda muito aquém" da taxa desejada para o País. A reação da indústria, de acordo com a mesma análise, foi insuficiente para gerar no primeiro semestre um resultado melhor que um aumento de 0,8% em relação ao de igual período do ano anterior. Enfim, o setor externo "continua preocupante", também segundo o documento divulgado pelo Iedi.
Uma avaliação semelhante das contas externas apareceu no boletim Focus da última sexta-feira. A projeção do saldo comercial de 2013 foi reduzida de US$ 3,4 bilhões para US$ 3 bilhões. O valor estimado para o próximo ano caiu de US$ 9 bilhões para US$ 8 bilhões. A fraqueza do comércio exterior é relacionada com deficiências estruturais da economia e do setor industrial. Os economistas consultados na pesquisa Focus devem ter levado em conta os possíveis efeitos benéficos da depreciação cambial para o comércio - exportações mais baratas e importações mais caras.
Mas esses efeitos - esta deve ser a ressalva - serão insuficientes para compensar os demais problemas de competitividade.
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