FOLHA DE SP - 19/08
SÃO PAULO - Marina Silva deu mostras de ter amadurecido na entrevista publicada ontem nesta Folha. O discurso da ordem não se restringiu à crítica dos protestos violentos, na qual empregou sem assombro o termo "Estado democrático de direito", frequente no léxico conservador.
Em dois outros momentos, a presidenciável endossou ideias de orientação liberal na economia. Autonomia do Banco Central? "Fundamental". Pretende encarar uma nova reforma na Previdência? Sim.
Na eleição de 2010, Marina já acenava à chamada ortodoxia econômica, no meio de um palavreado confuso e contraditório. Parece que a fase de dúvidas passou.
Sem entrar no mérito da convicção da ex-ministra, há boas razões práticas para abraçar a causa. Hegemônica nos últimos cinco anos, a condução alternativa, "desenvolvimentista", está desmoralizada pelos frustrantes resultados entregues.
O próprio governo reconhece a derrota e corrige a rota da pilotagem econômica. Fará concessões adicionais à cartilha liberal, tantas quanto julgar necessárias para manter-se no poder. Tem um time reserva, orientado pelo treinador Palocci, pronto para entrar em campo se for preciso.
A turma liberal tucana, aliviada com o afastamento de José Serra --para ela um desenvolvimentista da Unicamp--, está firme com Aécio Neves. Armínio Fraga, ex-chefe do BC, encabeça este grupo.
Nesse quadro, é natural que Marina Silva, cujo desempenho de segunda colocada nas intenções de voto melhorou, arregimente os seus próprios liberais. Recebe a aproximação de André Lara Resende, um dos melhores economistas brasileiros do século passado, mentor do Plano Real.
Decerto se trata de um Lara Resende modificado, excêntrico e desalentado com as peripécias recentes da economia global. Pensa alto se vale mesmo a pena o crescimento econômico. Ainda assim, não se recusa um Lara Resende.
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