FOLHA DE SP - 06/08
Apesar de rumores de adiamento em sua própria pasta, ministro confirma leilão do trem-bala
O LEILÃO DO TREM-BALA está mantido, disse ontem o ministro dos Transportes, César Borges. As empresas talvez interessadas então entregariam suas propostas para construir o trem na semana que vem, uma rima sem solução. Nas internas do governo, faz uma semana corre o rumor de que o negócio está encruado e pode ficar para 2014 ou até 2015.
Mesmo negócios úteis e viáveis que fazem parte do plano de infraestrutura lançado pelo governo no ano passado estão encrencados, tais como ferrovias de cargas no interior e rodovias, que dirá essa fantasia do Trem de Alta Velocidade entre Campinas, São Paulo e Rio.
Ontem saiu o modelo básico para as concessões de ferrovias do Plano de Investimentos em Logística do governo federal, o planão de Dilma Rousseff. O pessoal das empresas, das grandes em especial, fez muxoxo, entre outros motivos porque o critério de vitória ainda é, grosso modo, o preço da tarifa. A verificação da qualidade técnica dos vencedores vem depois. Isso favorece preço menor e empresas menores.
Parece bom. No entanto, uma vez vitoriosa uma empresa juvenil demais ou com um preço aventureiro, fica difícil o governo voltar atrás.
Então, fazem-se favores, aceitam-se atrasos em obras etc. Esse é o argumento das empresonas, que têm feito um lobby brabo, mas o fato é que temos visto tais problemas ocorrerem. Goste-se ou não, elas podem não aparecer no leilão, o que daria em desmoralização, mais investimentos adiados, infra ainda precária e menos crescimento.
Isto posto, o governo insiste no trem-bala, cuja primeira licitação micou em julho de 2011. O governo agora vem com a conversa de que "vai haver pouco dinheiro público na obra", que os críticos do trem estão errados, que os fundos estatais serão (quase todos) empréstimos.
Para começar, vai haver dinheiro público, muito subsídio, empréstimo a juro de pai para filho, prazos de avô para neto, carências e garantias. Para continuar, não se sabe quanto vai custar o trem (ainda não há projeto). Enfim, o argumento demonstra outra vez o escasso conhecimento de economia do pessoal do governo.
Além de subsídio, o trem da presidente terá outra mãozona oficial.
BNDES e Correios ontem "formalizaram" seu interesse em se associar ao negócio. Isto é, vão dividir ainda mais o risco de que esse trem dê prejuízo. Ao dar dinheiro, direta e indiretamente, para empresas privadas, o governo está induzindo um investimento economicamente inviável (se fosse viável, as empresas estariam correndo para fazê-lo).
Quer dizer, o governo está distorcendo a alocação de capital (uso do dinheiro) com incentivos indevidos, sem motivo social relevante.
Para juntar insulto à injúria, o governo usa seus escassos recursos administrativos e políticos no trem-fantasma.
Parece ninharia falar em desperdício de recursos administrativos.
Mas estamos tratando de um governo que atrasa concessões sérias, que não consegue instalar postes e fios para usar a energia de parques eólicos prontos, que não consegue deitar um trilho de uma ferrovia essencial para o progresso de uma região que vai dos Matos Grossos à Bahia, passando por Goiás e Tocantins: de um governo que não consegue fazer nem o básico.
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