Agosto será uma pausa na briga entre o Congresso e o governo de Barack Obama sobre quem será o próximo presidente do Federal Reserve. Obama disse que tomará a decisão depois do recesso de verão. Os sinais que emitiu é que se dependesse dele seria Lawrence Summers, e os sinais dos democratas no Congresso são favoráveis à Janet Yellen. Pode acabar sendo um terceiro.
Summers é polêmico e controvertido e sempre será. Ele foi secretário do Tesouro americano e presidente de Harvard. Desse último cargo saiu, como todos se lembram, após uma declaração considerada ofensiva pelas feministas. Foi tirado do ostracismo por Barack Obama, que o colocou no Conselho Econômico da Casa Branca nos primeiros anos de mandato. Num encontro com líderes políticos, Obama defendeu seu ex-assessor quando ele foi criticado.
A velha declaração politicamente incorreta de Summers - desconfiando das aptidões das mulheres para as ciências - ajuda a fortalecer o clima de guerra dos sexos. Janet Yellen seria a primeira mulher a comandar o Fed, invadindo o que algumas parlamentares estão chamando de "clube dos meninos".
Ela recebeu o apoio, oficializado em carta a Obama, de 37 mulheres democratas da Câmara dos Deputados, e de 20 dos 54 integrantes democratas no Senado.
Evidentemente que a briga não é apenas de gênero. Yellen é a mulher que foi mais longe dentro do Fed, hoje é vice-presidente. Tem a experiência de estar lá dentro acompanhando um dos momentos mais difíceis da vida do Banco Central americano. Ela teria feito, segundo seus defensores, um alerta de que a crise viria. Já Summers, pelos críticos, é um dos responsáveis pela formação da bolha que levou à crise, por ter participado ativamente do trabalho de desregulamentação financeira. Ela é favorável à maior regulação do sistema.
No Partido Democrata ficou mais forte a ideia de que os bancos devem ter uma regulação mais detalhada, até porque, quando eles entraram em colapso, foram salvos por generosos resgates com dinheiro público, e afundaram o país, e o mundo, na crise da qual não se saiu até hoje. O único banco a quebrar foi o Lehman Brothers, apenas para reforçar o mito do "grande demais para quebrar" que protege os bancos nos Estados Unidos e na Europa.
O mais importante seria, nessa escolha, olhar para a frente e pensar nas características de cada um dos candidatos. Ben Bernanke, desde seus tempos de acadêmico, se dedicou a estudar como se evita uma depressão. Ele teve a chance de aplicar isso. Inundou o mercado financeiro de liquidez e assim evitou o pior, e está colhendo os louros de um período de retomada de atividade com queda do desemprego. Os indicadores não são maravilhosos, mas ele sempre poderá dizer que evitou um novo episódio de recessão profunda, que é o grande trauma americano.
O problema é que agora vem o mais difícil: como retirar a liquidez para evitar a formação de novas bolhas e a alta da inflação? Nesse ponto, os defensores de Summers dizem que ele "pensa fora da caixa", ou seja, é inovador e teria mais possibilidade de enfrentar os inesperados que podem ocorrer nos próximos anos. Os defensores de Yellen dizem que ela seria a pessoa ideal para evitar os excessos, que podem ocorrer se o cenário para a economia americana for positivo.
O "Financial Times" de ontem disse que a briga mostra que as divergências no Partido Democrata sobre a crise financeira continuam vivas. O que seria ruim avivar em um momento em que Obama já enfrenta outros impasses com o Congresso. A pergunta que tem que ser respondida agora é que nome poderia ser o terceiro, se o impasse continuar.
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