A primavera árabe inaugurou estilo descentralizado de manifestação, com as redes sociais sendo usadas para a convocação, a ausência de lideranças e de pauta de reivindicações, porquanto era fundada na insatisfação geral pela conjuntura e desejo de mudanças. Tais premissas de guerrilha foram adotadas contra governantes totalitários, conhecidos pela truculência na repressão aos eventuais opositores. Esse modelo passou a ser aplicado em outros países, inclusive nos considerados desenvolvidos, a exemplo do movimento Occupy Wall Street, que recentemente adotou essas mesmas táticas de protestos e serviu para demonstrar a insatisfação e vascolejar a estrutura política dos Estados Unidos.
Movimentos similares estão sendo presenciados no Brasil, e está claro que isso causa temor na presidente Dilma e em seus correligionários, enquanto imaginariam deter o monopólio da manifestação – diretamente, por partidos aliados ou através de seus braços sindicais, estudantis ou movimentos sociais subordinados. Desde que Lula assumiu o poder, há dez anos, quase todos esses atores foram “domesticados” com cargos e recursos, e somente tomavam as ruas em manifestações contrárias a governos estaduais ou municipais de oposição, sempre com lideranças centrais verticais, submissas e zelosas em preservar o governo federal.
Numa tentativa de controlar o movimento popular, a presidente Dilma fez o pronunciamento de 21 de junho, no qual afirmou ter escutado a mensagem que vem das ruas, mas, além das expressões gerais, aproveitou a oportunidade para implantar pegadinhas. A contraditória recepção aos líderes de um movimento cuja premissa é justamente a ausência de lideranças, além de “representantes das organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das associações populares”, tendo sido justamente esses repelidos nos protestos dos últimos dias, leva à conclusão de que a presidente pretende instalar um faz de conta federal, um jogo acertado entre companheiros ideologicamente conectados.
Ela ainda requenta tentativas de empurrar goela abaixo os “milhares de médicos do exterior” e resolver o problema criado pelo próprio PT e movimentos sociais subordinados, que nos últimos anos enviaram para estudar em Cuba estudantes-militantes brasileiros que não foram capazes de ingressar em cursos de Medicina no Brasil e talvez não possuam capacitação técnica para revalidar seus diplomas em nossas universidades públicas.
Tais brasileiros formados em Cuba, se aqui aceitos, estabeleceriam fato consumado, ao contrário de estrangeiros que receberiam visto provisório, já que aos nacionais não se negará a continuidade de seu trabalho depois de alguns anos. Melhor seria aprovar o PLS 168, de 2012, que “institui o exercício social da profissão para garantir emprego e exigir prestação de serviço dos graduados em Medicina que obtiveram seus diplomas em cursos custeados com recursos públicos, em instituições públicas ou privadas”.
Por fim, o que a voz das ruas clama é pela boa condução de governo, pautada em políticas públicas cuidadosas. O povo clama porque está decepcionado com a gestão pública, pois vê bilhões de reais dos impostos dissolvidos em obras inacabadas, a exemplo da transposição do Rio São Francisco.
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