O GLOBO - 01/06
Espera-se que o “pibinho” do primeiro trimestre tenha mesmo vencido as últimas resistências no governo a admitir que os estímulos ao consumo já haviam chegado ao limite na função de motor principal da economia. Declarações de autoridades como o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a favor da necessidade de se impulsionar investimentos, são um bom sinal. Passa-se por um daqueles raros momentos em que há relativo consenso nos diagnósticos de analistas econômicos e governo. Entra-se, agora, na fase mais difícil, a de se colocar em prática o discurso, pois se sabe o quanto é difícil colocar a máquina burocrática para funcionar num ritmo aceitável, quando se trata de aprovar e tocar projetos. Mas será preciso.
A inapetência gerencial do setor público, somada a prevenções ideológicas, fez o país perder muito tempo. Aeroportos já poderiam ter sido licitados e , no setor de petróleo, cinco anos não teriam sido jogados fora se o estatismo que domina parte do PT e governo não houvesse paralisado as licitações de áreas para exploração, com a intervenção feita para estabelecer um anacrônico monopólio da Petrobras na operação na área do pré-sal, entre outros retrocessos. Não há saída a não ser correr. Os investimentos cresceram no trimestre 4,6%, em relação aos últimos três meses de 2012. Apesar desta expansão, o quadro geral continua preocupante: os investimentos totais estão abaixo dos 19% do PIB, quando são necessários 25% para manter a economia em voo de cruzeiro à velocidade de 4% ao ano. A taxa de poupança, por sua vez, acha-se em acanhados 14,8% do PIB, o índice mais baixo desde 2002, em função do modelo esgotado de crescimento via consumo e do desregramento na administração das contas públicas. Assim, os investimentos passam a depender bastante de recursos externos, um caminho a ser trilhado com os devidos cuidados, como alerta a história econômica brasileira.
Para reforçar a complexidade do cenário, o recém-divulgado ranking de competitividade do IMD -World Competitiveness Center, da Suíça, detectou uma perda de cinco posições pelo Brasil — do 46º lugar, em 2012, para o 51º, numa relação de 60 países. O Centro avalia quatro áreas: desempenho econômico, eficiência governamental, empresarial e infraestrutura. A não ser na eficiência empresarial — que precisa ser muito elevada diante do mau ambiente de negócios —, o Brasil não tem mesmo do que se orgulhar.
A agenda, em nada desconhecida, está pronta: investimentos, com destaque para a infraestrutura, e outros incentivos à produtividade (nos impostos, burocracia, educação).
Estão nesta direção a modernização dos portos, licitação de mais aeroportos e estradas, por exemplo. Mas tudo acontece em marcha lenta. Mais do que nunca, os pendores gerenciais da presidente Dilma têm de ser convocados para destravar burocracias e atrair a, com razão, desconfiada iniciativa privada. O projeto da reeleição também depende desta virada administrativa.
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