Há o dinheiro nervoso, que se movimenta de um país para o outro ao sabor da notícia imediata. E há o de longo prazo, que tem outra lógica, ainda que também olhe os indicadores da conjuntura. Todo ano, a consultoria A.T. Kearney vê números e faz entrevistas com executivos das principais empresas do mundo. A pesquisa divulgada ontem surpreendeu porque os EUA foram levados ao topo, algo que não acontecia desde 2001. A China caiu para segundo. O cenário, neste ano, ficou menos favorável aos emergentes, como um todo.
A dúvida é se isso é o início de uma mudança de fluxos de investimento, favorecendo as economias ricas, que lentamente têm deixado o pior para trás.
Segundo o diretor da A.T. Kearney, em São Paulo, Tiago Monteiro, alguns dos países europeus ficaram mais atraentes porque passaram os últimos anos reduzindo custos, por causa da crise. Mesmo os que bateram no fundo do poço, como Espanha, Portugal, Irlanda. Nos Estados Unidos, também houve ajustes e mudanças:
- Os EUA voltaram a crescer, há mais confiança. Na Europa, os países fizeram reformas, principalmente no mercado de trabalho. Muitos ativos também ficaram baratos, o que tornou esses países mais atrativos neste momento. Na China, o que se vê é desaceleração da atividade e aumento do custo da mão de obra.
A pesquisa vai na mesma direção do que se percebe no mercado mundial de câmbio: os EUA estão em recuperação e isso atrai dólares e derruba as moedas de vários outros países. A conjuntura ainda mostra sinais - como o de ontem - de que é uma recuperação oscilante. Mesmo assim, os Estados Unidos têm demonstrado um dinamismo que justifica a volta ao primeiro lugar depois de 12 anos.
Ontem também foi divulgado o balanço da Unctad sobre investimento direto em 2012. Ele mostra que os países em desenvolvimento receberam a maioria do capital direto investido. O Brasil foi o quarto destino. A diferença dos dois indicadores é que a Unctad faz um balanço do investimento efetivo feito, e a A.T. Kearney mostra intenção de investimento. Um mostra números consolidados de 2012, enquanto o outro capta tendências para 2013.
Na Unctad, a China foi o maior destino do investimento em 2012. Na A.T. Kearney, ela caiu para segundo lugar, como intenção de destino dos investidores em 2013. O momento atual da China é confuso. A transição política criou incertezas no começo do ano, e os sinais de mudança da conjuntura econômica levantaram temores. Nos últimos dias, por exemplo, os juros do crédito interbancário dispararam porque cresceu o risco de que haja uma bolha de crédito no país.
Mesmo com a melhora em alguns países desenvolvidos, os gestores das principais empresas do mundo, hoje, avaliam os países em desenvolvimento como economias menos arriscadas e mais atraentes. A briga por investimento será mais forte nos próximos anos.
O Brasil colhe três boas notícias: 40% dos executivos estavam mais otimistas com o país. Além disso, permanecemos como terceiro principal destino, e nosso mercado consumidor é apontado como um forte atrativo.
- O Brasil tem um mercado consumidor muito grande, e que continuará crescendo até 2050. Além disso, é uma economia sólida, com estabilidade política. Não há como fugir do Brasil - disse Monteiro.
Se essa intenção de investimento vai se transformar, a curto prazo, em entrada de capital direto, vai depender da capacidade de o governo reagir ao baixo crescimento.
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