Plebiscitos e discussões de reforma política à parte — até porque essa reforma não vai sair amanhã mesmo —, existe hoje no mundo dos políticos uma disputa não escrita nem declarada sobre quem vai liderar a “segunda agenda”, como os petistas estão chamando.
Em reuniões mais reservadas, os petistas têm concluído que foi vencida a agenda da ascensão social que levou 40 milhões de brasileiros a outro patamar de renda. Agora, passada uma década de governo petista, como marcou o próprio partido em sua propaganda, a população saltou à próxima fase do jogo.
Essa nova etapa inclui o padrão Fifa de uma série de serviços. No rol de tarefas a cumprir, saúde, educação e segurança, algo sempre presente nas propagandas, sem grandes saltos significativos de qualidade até o momento. Quem já fez pesquisa detectou que a saúde é o problema mais agudo, superior ao da educação. E ainda há a questão da mobilidade urbana, em especial nos grandes centros, nos quais o mau humor do eleitorado impera.
Esse diagnóstico tem sido feito em reuniões bem fechadas, porque, afinal, ninguém no governo ou no partido até agora assume publicamente erros de condução no processo. Em todas as manifestações públicas, o PT cita apenas o lado bom da história de seus 10 anos de governo, e deixa na conta de toda a classe política a não realização dos demais serviços cobrados nas manifestações, inclusive os investimentos nos setores que afligem a população.
Resta saber, entretanto, se isso vai colar perante o eleitorado. Há quem diga que, se o governo Dilma continuar apenas na cobrança de ações por parte dos outros atores, como fez ao longo desta semana, sem fazer nenhum mea culpa, algum adversário pode conquistar a liderança dessa nova agenda. Dentro do PSDB, Aécio Neves começa a ensaiar o discurso de que só quem controlou a inflação e fez o Plano Real pode devolver a tranquilidade econômica e social. O PSB de Eduardo Campos levantou a bandeira do “é possível fazer mais”.
Diante desse cenário, há quem defenda, dentro do PT, uma revisão do propagandismo dos últimos meses, no sentido de trocar a arrogância do “eu fiz” pela humildade do “erramos em alguns pontos, mas só quem promoveu a ascensão social de muitos pode agora dar conta de entregar essa nova etapa do Brasil”.
É nesse contexto que se trava hoje uma onda de pressão petista no governo. Há quem diga, por exemplo, que se Dilma quiser recuperar o protagonismo, tem que substituir o ministro da Fazenda, Guido Mantega, cujas previsões nem o próprio partido dele acredita mais. Para se ter uma ideia, ontem pela manhã, enquanto Mantega falava na Câmara, muitos deputados diziam não ter interesse em acompanhar o pronunciamento do ministro porque ele iria “repetir as boas previsões que não se confirmam”. Se nem o PT acredita, quem acreditará?
Enquanto isso, nas ruas...
A sensação entre os políticos é a de que a crista da onda das manifestações já passou, mas ainda não dá para dizer que o gigante adormeceu novamente. A aposta é a de que esse clima de mobilização continuará com altos e baixos até a eleição de 2014. Se a previsão se confirmar, será pior para quem está no poder. Não por acaso, já tem muita gente agindo no sentido de tentar preservar espaços. Mas essa é outra história.
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