O ESTADÃO - 22/06
A combinação de políticas econômicas experimentalistas do governo Dilma não tem respostas adequadas e firmes para a maioria dos problemas macroeconômicos do País.
O crescimento contínua sendo enfrentado com pacotes destinados predominantemente a puxar pelo consumo, como se viu há dez dias, quando o governo lançou um programa de R$ 18,7 bilhões em recursos públicos para financiamentos com juros subsidiados para a compra de móveis e aparelhos domésticos. Os investimentos seguem lentos demais. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) continua empacado e as concessões para construção e ampliação de portos, aeroportos, rodovias, ferrovias, exploração de petróleo e energia elétrica, entre outras, esbarram na ineficiência do setor público até mesmo para leiloar concessões e prover licenciamento ambiental. O investimento continua em insatisfatórios 18,4% do PIB, como viu-se na última edição das Contas Nacionais.
Para contra-atacar a inflação espalhada e renitente que ultrapassa o teto da meta de 6,5% em doze meses, o governo aceitou a virada do Banco Central, que desistiu de esperar para ver e voltou a puxar os juros básicos para cima, "até o nível que vier a ser necessário". Mas se recusa a usar a arma mais poderosa e indispensável, que é a política fiscal austera e responsável.
No discurso oficial, a inflação nunca escapou do controle e se deve sempre a choques externos de oferta, nunca a problemas internos. A estratégia do governo é esperar que reflua mais ou menos espontaneamente ou que os preços sejam estancados com conversa.
No relatório sobre as Contas Externas ontem divulgado pelo Banco Central, se viu que, em cinco meses, o rombo nas Contas Correntes (comércio exterior de mercadorias e serviços mais transferências unilaterais), em doze meses, saltou de 2,4% para 3,2% do PIB. Como a ênfase continua sendo a expansão do consumo, como ficou dito, a tendência é de que as importações cresçam mais rapidamente do que as exportações. Mais ainda, a entrada de Investimentos Estrangeiros Diretos não deverá mais cobrir esse rombo, porque os capitais internacionais passarão a tomar o rumo dos Estados Unidos. A remoção do IOF de 6% na entrada de recursos externos destinados às aplicações financeiras e de 1% nas operações com derivativos cambiais não parece suficiente para reverter os fluxos.
O governo também não tem resposta firme para a crescente perda de competitividade da indústria. O programa de desonerações tributárias é caro, segmentado e gerador de distorções. Setores da indústria que não forem os de veículos e de aparelhos domésticos são, na prática, considerados de segunda classe e dificilmente integram as listas dos favorecidos. E a intenção de desvalorizar o real para baratear em dólares as exportações esbarra agora no avanço da inflação.
Também não se vê iniciativa destinada a aumentar o mercado externo para o setor produtivo nacional. O governo segue prestigiando os perfuradíssimos tratados do Mercosul e submeteu-se à retranca comercial da Argentina. Não há negociação de nenhum acordo comercial bilateral com outro bloco de países que pudessem dar alguma preferência ao produto brasileiro.
Enfim, o mix de políticas do governo Dilma não se limitou a desmontar o tripé anteriormente bem-sucedido (responsabilidade fiscal, metas de inflação e câmbio flutuante). Já não consegue resolver os problemas que aí estão.
Cenário. O dinamismo do mercado de trabalho é uma das apostas do governo para aquecer a economia e um dos trunfos eleitorais para a candidatura à reeleição da presidente Dilma. A pesquisa CNI/Ibope, divulgada esta semana, mostra que mais da metade da população aprova as medidas do governo de combate ao desemprego.
*Meta estourada
O estouro do teto da meta de 6,5% em 12 meses é inevitável neste mês e no próximo. Depois disso, ainda vai-se ver o quanto da alta do dólar será repassado para a inflação. O índice de difusão (que mede quanto a inflação está espalhada), continua alto, em torno dos 62%.
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