Basta surgir um feriado entre dois dias úteis para que a maioria dos brasileiros tenha aquela sensação de nove dias de férias. Essa calmaria, entretanto, será apenas aparente, pelo menos no que diz respeito ao governo federal. Especialmente, na seara política, é um tempo crucial para que a presidente Dilma Rousseff tente organizar a sua base aliada, a fim de pular fogueiras em junho.
Entre os partidos, voltou a pulsar aquela vontade não expressa verbalmente (literalmente nas entrelinhas!) de gerar turbulências para ver se Dilma pede para sair. E sua equipe em nada tem contribuído para aplainar os terrenos. Ao contrário. A visita da ministra de Relações Institucionais ao Congresso na semana passada foi considerada um desastre. Ideli, só para lembrar aqueles que não prestaram atenção no lance, disse que o Congresso naqueles dias votaria apenas quatro medidas provisórias e mais nada. Bastou isso para colocar a oposição de cara para o gol, sem goleiro e com o zagueiro mal posicionado. O discurso, “Epa! Olha a ministra mandando nos deputados, gente!” ganhou pernas. A tendência é essa frase continuar ecoando hoje pelo plenário, que ainda não votou todas as medidas anunciadas pela ministra e nada garante que votará hoje.
Que Dilma gosta de mandar e de ver as coisas acontecendo do jeito dela não é segredo para ninguém, mas, em política, como na vida, nada ocorre exatamente da forma como as pessoas desejam a interatividade muda rumos, altera planos e é preciso um jogo de cintura que o governo não demonstra ter. Por isso, tudo vira um parto arriscado.
Esse modus operandi e os problemas enfrentados na seara política foram objeto da conversa de três horas entre Dilma e Lula na última quinta-feira, no Palácio da Alvorada. A avaliação de aliados do governo e também dos petistas próximos ao ex-presidente é a de que o governo acertou a mão na comunicação direta com o eleitor, mas ainda não encontrou o ponto da massa na política. Na tevê, Dilma surge sempre segura, bonita e direta, com frases e entonações que inspiram confiança. Essa mesma Dilma, entretanto, não surge para os políticos de uma maneira geral. Seu governo quebra acordos, bate o pé e sua equipe apenas transmite aos congressistas broncas e negativas sem qualquer filtro.
O problema é que o tempo começa a correr contra presidente nesse campo, sob pena de os prejuízos logo ali na frente serem maiores. O ano pré-eleitoral já está quase pela metade e a sensação dos políticos é a de que Dilma parece prescindir deles para conquistar 2014. E, sendo assim, eles perdem aquele sentimento de fazer parte do jogo. E, quando não têm compromisso como governo, apresentam pedidos de CPI da Petrobras, fazem corpo mole no plenário, buscam criar todos os tipos de dificuldades até que haja uma séria em que o governo precise rever seus planos.
Por falar em dificuldades...
O quadro se agravará se a economia não der sinais de recuperação. Embora alguns sintomas tenham surgido na indústria, é preciso que a população perceba um recuo na inflação de alimentos, o que ainda não ocorreu nos supermercados e feiras espalhadas pelo país. E o grave é saber que, nesse momento, o tomate está longe de ser o único vilão. Talvez, diante dessa semana com ares de feriadão para muitos, alguns voltem ainda mais irritados com os preços. E se isso acontecer, é bom Dilma criar logo o seu anteparo na política. Afinal, do jeito que a coisa vai, se a avaliação dela perante o povo sofrer abalos, a turma do Congresso não servirá de rede. E é aí que mora o perigo das falhas na política. Essa história está apenas começando. Nesse momento, ela precisa cuidar ainda da proteção do Bolsa Família e da CPI da Petrobras. Essa sim, é outra história.
Nenhum comentário:
Postar um comentário