CORREIO BRAZILIENSE - 03/05
Os petistas vão passar os próximos dias num dilema. Seguir pelo mesmo caminho das disputas internas ou pular essa etapa para buscar o enfrentamento direto com tradicionais adversários — e até aliados, leia-se, o PSB. Com a obrigação de defender o próprio governo e cuidar da reeleição da presidente Dilma Rousseff, parte das tendências petistas revê a ideia da disputa entre petistas que, invariavelmente, marca o processo de eleição direta (PED) da agremiação. E a facção que deve sair na frente nesse quesito é o Movimento PT, que se reúne neste fim de semana, em Brasília.
O Movimento PT é a terceira maior corrente partidária. Ali, estão o ex-presidente da Câmara Arlindo Chinaglia; a ministra da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário; o senador Delcídio Amaral e muitos deputados, como Geraldo Magela, do Distrito Federal; Gabriel Guimarães, de Minas Gerais; Fátima Bezerra, do Rio Grande do Norte; e Fernando Ferro, de Pernambuco. Entre hoje e amanhã, cerca de 200 delegados vão se reunir com a perspectiva de não lançar candidato à presidência petista, algo difícil para a tendência desde a sua criação.
Criada em 1999, no congresso do partido em Belo Horizonte, o Movimento PT sempre foi defensor da cabeça de chapa, seja para si nas disputas internas, seja para o PT, quando o tema era a Presidência da República. Aliás, esse foi um dos motivos que ensejaram a sua criação. “José Dirceu defendia que o PT tinha que estar numa frente de centro-esquerda, mesmo que não obtivesse a cabeça de chapa. Nós defendíamos essa frente, mas não abríamos mão da cabeça de chapa”, lembra o deputado Magela.
Hoje, entretanto, a conjuntura política e econômica deve levar o Moivmento PT a economizar nas disputas. No papel de expoente da tendência, Magela dirá neste fim de semana a todos os integrantes do grupo que, em vez de dedicar energia à disputa pelo comando do partido, os petistas devem optar pela reeleição de Rui Falcão, de modo a dar tranquilidade para que ele possa, desde já, empreender a costura de aliados e do discurso rumo a 2014.
No artigo que escreveu para seus partidários, Magela expõe as razões que o levaram a fazer essa proposta. Primeiro, a situação internacional não está clara sob os aspectos econômicos. No Brasil, há as dificuldades “naturais” da economia e da política, algo que afeta todos os estados. Portanto, o PT não tem um ambiente tranquilo externamente para passar seis meses dedicado à disputa interna — isso porque as inscrições das chapas estão marcadas para 12 de julho, e a eleição, para 11 de novembro. Ou seja, a campanha para presidente do partido é mais longa do que a de presidente da República!
Na avaliação de Magela, esse período em que o PT estará dedicado à campanha interna será crucial para tentar cercar os aliados nos estados. E ele não deixa de ter razão. Afinal, hoje, enquanto os petistas discutem seu PED, pré-candidatos a presidente da República — em especial, o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, e o senador Aécio Neves, do PSDB — avançam sobre aliados de Dilma. Eduardo, por exemplo, tem conversado com PTB, PP e até setores do PMDB.
Até aqui, quem tem tratado de podar as asas de Eduardo na política tem sido o vice-presidente da República, Michel Temer. Foi dele, por exemplo, a iniciativa de tirar o Júnior (do JBS-Friboi) do PSB, atraindo-o para o PMDB. O PT, até o momento, não fez nenhum grande movimento de bastidores no sentido de tentar sufocar Eduardo na política, sem deixar claro o confronto. O maior gesto foi de conflito, no sentido de pressionar a presidente Dilma a tirar o PSB do governo, o que não parece ser o modo mais correto de se preservar um aliado.
Se o Movimento PT fechar este fim de semana com a reeleição do presidente Rui Falcão, os cálculos indicam que ele poderá angariar cerca de 70% dos votos petistas, ficando numa situação interna mais confortável para se dedicar à montagem dos palanques estaduais e à defesa da presidente Dilma Rousseff. Dilma, avalia Magela, deve ser a prioridade. E, em nome dela, o PT deve deixar de lado a tradição da disputa interna para buscar o pragmatismo da reeleição. Afinal, se tem uma coisa que nenhum partido gosta é de perder poder.
Enquanto isso, no Distrito Federal…
O escândalo das capas de chuva da Polícia Militar serviu de pedagogia. Tanto para o governador Agnelo Queiroz, que agiu rápido evitando que o episódio virasse uma crise em seu governo, quanto para o cidadão, que agora estará mais atento em acompanhar os gastos feitos em nome da Copa das Confederações e da Copa do Mundo. Quanto mais transparência nas despesas melhor.
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