Não tem nada que tire mais o sono da presidente Dilma do que perceber que as medidas adotadas para alavancar a economia ainda não apresentaram os resultados esperados. Esta semana, então, a situação foi preocupante até mesmo para os otimistas. O crescimento do primeiro trimestre fechou abaixo do esperado pelos analistas. E, para decorar o bolo, a cerejinha foi o aumento de meio ponto percentual nos juros. Do ponto de vista político, essas duas notícias juntas — baixo crescimento e aumento de juros — ajudam a piorar o clima.
Do ponto de vista do empresariado, faz crescer o receio de captar recursos para investimentos, ou seja, ninguém quer correr o risco de pagar mais pelo dinheiro e, ali na frente, não ter o retorno. Logo, uma coisa vai alimentando a outra. Mas, do ponto de vista político e do eleitor como um todo, nem tudo está perdido.
No que se refere aos juros, a parte boa dessa história é a demonstração de uma certa independência por parte do Banco Central, que deu um sinal claro de que não hesitará na hora de controlar a inflação, o que é um bom sinal. Desde o Plano Cruzado, o país é escaldado com a história de não fazer ajustes necessários à economia para não quebrar a onda eleitoral. Para quem não se lembra ou era muito jovem, a equipe econômica à época cobrou ajustes no plano, mas a política estava tão embalada em altos índices de popularidade que esperou passar a eleição de governadores para fazer os ajustes. Deu no que deu. O plano naufragou e só nos recuperamos quase uma década depois, com o Plano Real.
A história mostrou que, quando isso acontece, os problemas se agravam e o castigo que o eleitor dá a quem descuida dos aspectos econômicos é grande. O PMDB, por exemplo, nunca mais retornou à Presidência da República, salvo agregado ao PT de Lula e Dilma.
É fato que a economia brasileira está bem melhor, e com as bases mais fortes do que nos idos de duas décadas passadas. A inflação também não é aquele dragão todo que assustava a todos. Mas isso não significa que não enseje cuidados. Há 15 dias, a presidente já havia afirmado que não deixaria de adotar as medidas necessárias para manter a inflação sob controle e, assim, o BC entendeu o recado. Se fosse necessário subir os juros, que assim agisse, pois tudo o que o PT não quer agora é virar um PMDB, e passar a viver agregado a outras siglas. Esse comportamento, aliás, está longe do código genético petista. Portanto, a ordem é tomar as duras medidas necessárias para segurar a economia logo em 2013, de forma que qualquer alívio em 2014 possa soar como uma excelente notícia.
Dilma tem plena consciência de que é melhor tomar as iniciativas impopulares agora, ainda que atrapalhe um pouco o crescimento econômico neste período, do que deixar a coisa correr frouxa e ter que agir em pleno ano eleitoral. Para completar, se a opção do Banco Central em elevar os juros ajudar a conter a inflação, os maiores beneficiados serão justamente os mais pobres. Coincidentemente — para aqueles que acreditam em coincidências na área política —, é nessa camada que está o grosso do eleitorado que vota na presidente Dilma e tem nela a imagem de protetora. As atitudes indicam que ela fará tudo o que estiver ao seu alcance para não perdê-los. Afinal, se Dilma quiser a reeleição, terá que ser popular. E, para ser popular, as classes mais pobres precisam estar satisfeitas e alimentadas. Ainda que o crescimento ande lentamente, a escolha de Dilma está feita.
Enquanto isso, no PSDB…
Foi veiculado ontem o primeiro horário político dos tucanos sob o comando do senador Aécio Neves (PSDB-MG). O programa tem objetivos múltiplos. O primeiro deles foi apresentar Aécio como alguém com mais jogo de cintura e história política do que a presidente Dilma. O segundo, reforçar os laços com os ícones do partido, daí, imagens de José Serra discursando na convenção deste mês.
Os tucanos destacaram ainda a inflação dos alimentos, que tanto preocupa o eleitor, e já havia sido tratada nas inserções do partido. Se a alta nos juros segurar a inflação, esse trecho do programa perderá o sentido em 2014. Não por acaso, Dilma e o BC lutam para conter essa elevação de preços e evitar que o eleitorado acabe concordando com o PSDB.
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