FOLHA DE SP - 20/04
SÃO PAULO - Produtores culturais, artistas e donos de cinema estão aplaudindo a aprovação, pelo Senado, de dispositivo que limita a 40% a cota de meias-entradas a ser vendida em cada evento. Se ratificada pela Câmara, a medida dará mais previsibilidade ao setor (não haverá mais shows com 70% de pagantes de meia), o que possibilita uma política mais racional de preços.
Não há dúvida de que a aprovação representará um avanço. Já há quem fale em redução de 35% no valor dos ingressos. Continuo, porém, achando que o instituto da meia-entrada é uma das coisas mais estúpidas já inventadas pelos nossos legisladores.
Para começar, ele é desnecessário. A economia de mercado está longe de ser perfeita, mas, se há uma área em que ela funciona bem, é a do lazer. Nenhum consumidor depende de ir ao cinema para sobreviver, e os empresários do setor, mais do que ninguém, têm interesse em manter a casa cheia. Desde que submetidos a concorrência, tendem a oferecer ingressos tão baratos quanto possível.
Também não sou contra qualquer tipo de subsídio, mas não vejo nenhuma razão social nem mesmo metafísica para o adulto "normal" financiar parte da entrada de uma outra pessoa apenas pelo fato de ela frequentar a escola ou ter mais de 60 anos. É não apenas possível como até frequente que o subsidiado tenha renda superior ao subsidiante.
Para arrematar o desfile de barbaridades, as coisas parecem estar se arranjando de modo a que entidades estudantis como UNE e UEEs sigam faturando alto com a emissão das carteirinhas que dão direito ao benefício. Houve tempos em que tal prática seria classificada de exploração.
Minha proposta para resolver de vez o problema é que os parlamentares generosamente estendam a meia-entrada a todos os brasileiros. Os que acreditam em mágica vão ver aí uma relevante ampliação de direitos e, no mundo real, o bom-senso econômico terá uma chance de prevalecer.
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