FOLHA DE SP - 25/04
BNDES faz bem em rever a política de selecionar grupos próximos do governo para competir no mercado global com recursos subsidiados
A recuperação do grupo X, do empresário Eike Batista, não deveria envolver dinheiro público novo, além dos auxílios obtidos do governo no passado. Seria o mais coerente, para alguém que já criticou os empresários brasileiros por falta de uma cultura de risco.
Se a Petrobras tomar parte num eventual socorro --o porto de Açu estaria em cogitação, investimento da estatal que suscita dúvidas--, o negócio precisará seguir critérios de mercado e transparência.
Afinal, estima-se que o volume de crédito público já carreado ao grupo X esteja perto de R$ 10 bilhões, principalmente do BNDES. Além de empréstimos, o banco tem participação acionária pequena numa empresa do grupo (MPX).
O caso X é mais um entre os muitos de empresas brasileiras apoiadas com dinheiro do contribuinte que têm resultados insatisfatórios na competição mundial.
A despeito do volume de crédito público, o grupo X não é tradicionalmente incluído entre os "campeões nacionais" eleitos pelo BNDES. Nos últimos anos, o banco foi o principal artífice dessa política, sob a premissa de que tais empresas teriam potencial para conquistar o mercado global. Daí todo o apoio à internacionalização dos grupos, que consumiu R$ 18 bilhões em seis anos, entre empréstimos e aportes de capital. Só no grupo JBS, a exposição do BNDES em ações ronda R$ 5,5 bilhões.
A prática agora será revista, segundo afirmou o presidente do banco, Luciano Coutinho, em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo". Ela já estaria esgotada nos poucos setores em que Coutinho enxergava oportunidade (petroquímica, celulose, frigoríficos, siderurgia, cimento e suco de laranja).
Todos esses setores são de commodities ou assemelhados. Se o país já era competitivo nessas áreas, qual seria o ganho de verter bilhões subsidiados em frigoríficos, para citar apenas o mais controverso dos casos?
O foco do banco, agora, se volta para segmentos mais promissores para inovação tecnológica. Desde sempre deveria ter sido esse o objetivo. Para Coutinho, o complexo de saúde e a indústria farmacêutica estão entre os elegíveis.
Seria ótimo o Brasil deixar de ser apenas o fornecedor de processos e produtos consagrados, sempre a pagar por propriedade intelectual gerada fora do país. Para isso, no entanto, é preciso dar atenção também às empresas médias e pequenas e à sua interação com entidades de pesquisa de excelência.
As garantias exigidas para financiar empresas médias contrastam com a facilidade com que bilhões são concedidos ao grande capital amigo do governo de turno. Destinar recursos para criar institutos de tecnologia de classe mundial, por exemplo, traria ganhos perenes ao país e sairia mais barato que cevar pretensos campeões.
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