Se os produtores de etanol não aproveitarem essa queda de custo tributário e financeiro para reduzir o preço não conseguirão o que mais precisam: o consumidor. Quem vai ao posto de gasolina faz uma opção lógica, pelo mais barato, mesmo tendo carro flex. Portanto, o mais inteligente agora é repassar o ganho para o consumidor e tentar reconquistar mercado.
A tendência das empresas será abocanhar esse ganho para, com ele, dizem, "recompor margem". Por mais interessante que seja para as empresas, esse é o caminho que deixa tudo como está, e o setor continuará perdendo mercado.
O pacote de medidas demorou muito a chegar. Isso foi proposto pelo setor ao governo em 2011, e só acontece agora, depois de um enorme subsídio ao combustível concorrente, fóssil, a gasolina. Em setembro de 2009, o consumo de etanol chegou ao ponto mais próximo da gasolina, 315 mil barris contra 330 mil. De lá para cá, a diferença aumentou muito. Em fevereiro, foram consumidos 535 mil barris de gasolina e 184 mil de etanol. Vejam no gráfico.
O governo diz que o setor foi atingido pela crise internacional. Isso é parte da verdade. Eles levaram dois choques. Um externo e outro interno. Aqui, o etanol foi prejudicado pelo subsídio à gasolina, que começou em 2008, com a redução da Cide. Pelas contas do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura), o Tesouro deixou de arrecadar R$ 20 bi no período. Outro subsídio foi indireto, via Petrobras, que manteve a gasolina congelada mesmo com prejuízos. Cinco anos depois de começar a proteger o combustível fóssil, o governo abre mão de R$ 2 bi para o etanol.
O sócio-diretor da MB Agro, José Carlos Hausknecht, disse que foi feito um estudo com a Unica, a associação que representa o setor, e a conclusão é que as medidas adotadas são algumas que foram propostas:
- Elas ajudam porque o produtor passará a ter uma margem maior, com menor incidência de PIS/Cofins. O crédito do BNDES é para a formação de canaviais, na etapa inicial da cadeia de produção. Mas muitos usineiros também são donos de canaviais. É difícil avaliar se o preço do etanol voltará a ficar competitivo, mas, se há aumento de margem, favorece investimentos.
Houve uma coincidência infeliz para o setor sucroalcooleiro. No auge do entusiasmo de o Brasil se tornar um grande produtor de combustível limpo, veio a crise internacional que pegou empresas no meio de investimentos de expansão. Houve também anos sucessivos de problemas climáticos. Mas o mais determinante foi a inexplicável opção preferencial do governo pelo subsídio à gasolina. Sem capacidade de competir, a crise dos produtores de etanol foi se agravando, ao ponto de o Brasil ter que importar o produto dos EUA.
A safra foi boa, o país voltou a ser exportador líquido de biocombustíveis e com o pacote haverá aumento da rentabilidade. Mas se o setor não aproveitar o momento e aumentar a eficiência, transferir ganhos de produtividade e redução de custos para o consumidor, não terá de volta o mais importante: mercado interno.
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