FOLHA DE SP - 05/02
A moção de censura do Fundo Monetário Internacional (FMI) à Argentina, por não corrigir a "inexatidão" nas suas estatísticas econômicas oficiais, é resultado direto dos métodos dúbios consagrados pela presidente Cristina Kirchner.
Na prática, o FMI confirma o que há muito se sabe: os dados do PIB e, principalmente, da inflação no país vizinho são inconfiáveis.
A reprimenda do Fundo surpreende por ser rara. Até a China, onde não faltam dados econômicos questionáveis, jamais recebeu esse tipo de admoestação.
Desde a criação do FMI, após a Segunda Guerra, só a então Tchecoslováquia foi expulsa do órgão, em 1954, "por não fornecer os dados necessários". O mesmo poderá acontecer com a Argentina, se continuar resistindo às mudanças no Indec (o IBGE local).
O instituto está sob intervenção do governo desde 2007, ainda na gestão de Néstor Kirchner, que tinha obsessão pela inflação de um dígito. Estima-se que a taxa anual de 2012 tenha rondado 25%, diante dos 10,8% anunciados pelo Indec.
A Casa Rosada proibiu a divulgação de cálculos por órgãos privados, que podem sofrer multas. Com o Fundo, o governo apelou para uma surrada retórica anti-imperialista, tão ao gosto de seus aliados na América Latina, e que ganhou força na Argentina após o calote na dívida externa, em 2001.
O ministro Hernán Lorenzino, da Fazenda, ressalva que o governo já trabalha em um novo índice de preços, previsto para o fim do ano, e que o FMI sabia da iniciativa metodológica. Portanto, não haveria motivo para a moção de censura.
É verdade que o FMI tem ciência do novo cálculo. Tanto é que, em 2010, enviou técnicos à Argentina para colaborar na mudança. O ministro, porém, não informa que, em fevereiro de 2012, o Fundo deu prazo de 180 dias para a Argentina resolver a questão -e que nada houve de concreto desde então.
Dados econômicos não manipulados e de acordo com padrões internacionais são imprescindíveis, não só para emitir os sinais corretos a investidores internacionais, mas principalmente para a população. Em qualquer país é um direito fundamental seu ser informado sem disfarce sobre a corrosão do poder de compra da moeda.
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