quinta-feira, fevereiro 21, 2013

Ponderar é preciso - DORA KRAMER


O ESTADÃO - 21/02

Quem conta um conto aumenta ou diminui os pontos como melhor lhe convém. Assim faz o PT em seu relato sobre os dez anos do partido no poder, "gloriosos" notadamente se comparados ao período "desastroso" do PSDB.

Obviamente nem tudo é glória, mas também nem tudo é desastre.

Um governo que renegociou a dívida externa de modo a recuperar a confiabilidade internacional do Brasil, que conferiu , sentido concreto aos conceitos de estabilidade monetária, de responsabilidade fiscal, essenciais para a organização do País, profissionalizou a direção da Petrobrás, extinguiu feudos políticos dos mais tradicionais ao mesmo tempo em qüe abria as portas da telefonia à população, não pode ser considerado exatamente catastrófico.

Tampouco pode ser visto apenas sob o prisma do puro esplendor um governo que desmoralizou o conceito de ética, escarneceu das normas de conduta, ignorou as regras do jogo eleitoral, passou a mão na cabeça dos piores tipos, achou que poderia comprar impunemente apoio de partidos no Congresso, desconstruiu as agências reguladoras, pôs em risco a Petrobrás, maquiou dados públicos como naquele passado de descrédito mundial e, na véspera de completar 10 anos no poder e 33 de fundação, teve a antiga cúpula condenada à prisão.

A cartilha comemorativa é um elogio à mistificação da capa com desenho que remete às velhas imagens do realismo socialista a distorções grosseiras conforme demonstrado em trabalho de Gustavo Patu na edição de ontem da Folha de S. Paulo.

No "mentirômetro" há versões falsas sobre vários assuntos posição do Brasil no ranking das economias do mundo, o crescimento do PIB por habitante nos últimos anos, a desigualdade social, a redução da taxa de pobreza e a inflação.

Ninguém espera que o PT vá esconder seus bem feitos e exaltar os malfeitos, bem como não seria de se imaginar que o partido enaltecesse o adversário.

Um pouco de comedimento e maturidade, contudo, daria ao PT um ganho no campo da honestidade, onde anda precisando se recuperar. Mas à ponderação que confere credibilidade aos discursos, o partido preferiu apresentar-se infalível.

Gomo um herói de faz de conta.

Terreno no céu. A reforma administrativa anunciada pelo presidente do Senado falando em economia de R$ 262 milhões por ano, por enquanto, é estimativa e expectativa.

Com sérios problemas de credibilidade decorrentes das repetidas promessas não cumpridas desde 2009, quando da descoberta dos atos secretos e do escândalo conhecido como "farra das passagens".

Nesses quase quatro anos, o que se teve foi um. projeto elaborado pela Fundação Getúlio Vargas ao custo de R$ 500 mil que foi literalmente para o lixo. Na época, José Sameyfez exatamente o que faz agora Renan Calheiros; procurou conter as críticas com promessas de mudanças. Andar com fé.

O presidente.da Câmara disse terça-feira numa reunião que daqui em diante não vai mais pautar só assuntos que sejam produto de consenso total entre os líderes partidários.

Henrique Eduardo Alves assegurou que o critério pará inclusão na pauta será a relevância dos temas, independentemente dá unanimidade que acaba funcionando como obstáculo para votações que não interessem a este ou àquele partido.

Referiu-se diretamente ao fim dos 14.0 e 15.0 salários dos parlamentares e deu a entender que o fim do voto secreto no Congresso pode ter o mesmo destino.

Considerando o gosto de Henrique Alves pelo vaivém - como visto na questão da perda dos mandatos dos condenados no processo do mensalão -, conviria ver para crer.

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