quinta-feira, fevereiro 21, 2013

A ciranda da Caixa - EDITORIAL FOLHA DE SP

FOLHA DE SP - 21/02

CEF consegue expandir lucro e crédito sem enfrentar um aumento da inadimplência, como era temido, mas ainda se vale de aportes do Tesouro


A Caixa Econômica Federal teve em 2012 lucro de R$ 6,1 bilhões, 17,1% acima do registrado no ano anterior. Esse resultado deriva em boa parte do crescimento de 42% em seus empréstimos, que somaram R$ 353,7 bilhões.

Com isso, a CEF se destacou num ano caracterizado pelo baixo crescimento dos bancos privados: Bradesco, Itaú e Santander tiveram aumento inferior a 10%, em média, nas suas carteiras de crédito.

A expansão da Caixa reflete a decisão do governo de usar a instituição e o Banco do Brasil para aumentar a concorrência no sistema financeiro. O BB já era forte em crédito agrícola, pessoal e empresarial, e a CEF se concentrava no segmento imobiliário, mas cresce agora em todas as modalidades.

Por enquanto, a inadimplência permanece baixa, na casa de 2% (nos bancos privados, a média passa de 5%). É normal que os calotes sejam mais raros enquanto o volume de financiamentos cresce aceleradamente. Os tomadores de novos empréstimos, desde que estes sejam concedidos com o mínimo de critério, são os que têm menor probabilidade de enfrentar dificuldades para manter os pagamentos em dia.

Outra vantagem da CEF decorre do peso do crédito imobiliário em sua carteira, que avançou 34% em 2012 e chegou a R$ 205,8 bilhões em dezembro.

Esses financiamentos costumam ser realizados com recursos da poupança e do FGTS, ambos com taxas subsidiadas, suportáveis pelo consumidor. Um surto de inadimplência ocorreria apenas em um cenário de recessão, que resultasse em aumento do desemprego -o oposto do que se observa hoje no mercado de trabalho.

Mesmo assim, recomenda-se cautela. A fixação no crescimento acelerado convida a afrouxar padrões na oferta de crédito e a decisões de investimento mais arriscadas -a perda de R$ 170 milhões com a compra do Banco PanAmericano em 2012 é um caso notório.

Não se deve esquecer que o ritmo de crescimento da Caixa só foi possível porque ela recebeu aportes de capital do Tesouro, com juros subsidiados, que chegaram a R$ 22 bilhões. Aí se incluem R$ 5,4 bilhões em ações de empresas -algumas de qualidade duvidosa- antes detidas pelo BNDES.

Tais reforços ajudam a impulsionar o lucro, pois o aumento de capital permite conceder mais empréstimos. Desde 2008, o Tesouro já injetou cerca de R$ 350 bilhões no BNDES, no BB e na CEF.

É como uma pirâmide: o Tesouro emite dívida e repassa os papéis aos bancos públicos, que podem com isso emprestar mais. Mas, se houver inadimplência, o contribuinte é quem bancará o prejuízo.

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